A Nova Torre de Babel
(por Domingos Oliveira Medeiros)


Eram muitos. Em grupos bem distintos. Diferentes em quase tudo. No tamanho, no comprimento, na largura e na forma. No modo de gritar, de pular, de comandar. De conquistar e de liderar. Diferentes até nas cores. E no jeito de andar. Falavam alto e ao mesmo tempo. Sobre vários assuntos. Não dava para entender muito bem o que diziam. Ou melhor, o que gritavam. Muito embora, todos balançassem a cabeça no gesto do “sim”; de que estavam em perfeita comunicação. Apesar da grande algazarra.

Do meu canto, observava seus gestos e seus movimentos. Pude, por inferência, entender alguma coisa de que falavam. Muitas reclamações por parte de alguns deles. Dava para perceber, ainda, que estavam trocando insultos. Ou reivindicações. Ou defendendo pontos de vista.

Enquanto outros, de outros grupos, em linguagem diferente, confraternizavam-se. Comemoravam alguma coisa. Talvez, quem sabe, algum aniversário. Ou, apenas, aquele dia: que, diga-se de passagem, estava muito bonito. Tinha chovido na noite anterior. Resultado daquela manhã tão refrescante!. E tudo acontecia com a colaboração do sol. No ponto exato. Tanto em brilho como em calor. O que tornava o cenário muito belo.

No final do encontro barulhento - inusitado e apressado -, os grupos chegaram ao consenso. Não sei qual. Mas chegaram. Posto que, de imediato, partiram juntos. E voaram em bandos. Cada grupo com suas cores e seus pares. Quem sabe retornarão amanhã para nova discussão?

Continuei no canto de minha janela. E pensava: nada tinha a ver com os problemas que foram discutidos pelos pássaros naquela bonita manhã. Mas, não pude deixar de agradecer por tanto barulho, por tanta vida, por tanta beleza para se olhar. E para se ouvir.

E só, em silêncio, pedi a Deus que me deixasse acordar outros dias - e no mesmo horário -, para observar um novo encontro; que por certo se repetirá, pois se trata de rotina natural e muito especial. Felizmente. A rotina inusitada. Que surpreende, sempre, pela beleza que se repete com o milagre da vida. Que acontece dia após dia. E muita gente perde o espetáculo grandioso e gratuito.

Do Livro do Autor, “Sonhos & Pesadelos”
Com correções para divulgação.