CHEIRO DE PEIXE
Saio do hospital cansado e estressado, em fim é hora de voltar para casa. Sigo trópego pela estrada, embora cansado caminho rápido dividindo o espaço com carros que passam apresados dentro da noite que se inicia. Ao dobrar a esquina cruzo com vultos noturnos suspeitos, mas finjo não perceber e apresso o passo, quando atravesso a rua, vejo um gato cinza passar sobre os meus pés, me assusto e continuo seguindo o gato com os olhos, não devia ter insistido no animal e numa fração de segundos, um motoqueiro cambaleante atropela o bichano que sai disparado sem destino, num indo e vindo frenético, fiquei perplexo com aquela atitude de ambos, motoqueiro e do gato que voltou varias vezes ao local do crime gritando num miado alucinado, como se falasse a todos presentes que naquele local alguém tinha cometido um assassinato. Minutos depois ele deita no chão é chegada a hora da sublimação.
Continuo a volta só que agora mais triste, pois ficou gravado em minha memória o desespero do gato. Passo por uma parada de ónibus lotada de pessoas que anseiam pelo mesmo destino que o meu, chegar logo em casa. E naquele local me vem a lembrança que ao descer a rampa do hospital até a recepção lateral, vi um peludo semelhante aquele que agora estava morto, me arrepiei, será que o gato era o mesmo? Instantaneamente percebi que desde o momento que sai do trabalho em direção de casa, um cheiro suave de peixe fresco me acompanhara e agora estava mais forte, parecia um pesadelo sutil e segui a trilha dos meus pensamentos até o portão de casa. O percurso terminou, mas ficou a impressão de que o gato deixou claro o seu recado, mas e o peixe onde estava?
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