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Contos-->O REI MARTINHO -- 21/02/2004 - 20:48 (Marco Antonio Cardoso) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Martinho, recém-coroado rei da Truânia após a morte de Teobaldo, consorte de sua mãe, a rainha Genoveva, recebe a notícia de que fora feito prisioneiro na fronteira ocidental do reino, o seu tio Sebastião, meio irmão de sua mãe. Ele agora estava encarcerado na Torre de Juno, uma antiga fortaleza do litoral.
As tropas de Agostinho, irmão do rei, haviam lutado bravamente contra o traidor Sebastião, e por fim, lograram a vitória. Agora Agostinho pedia ao irmão permissão para imolar o execrável traidor, mas na mente do rei, ardiam rancores mais profundos. Antes de mata-lo, precisava olha-lo nos olhos, cuspir na face que beijara tantas vezes em criança.
Martinho lembrava como se fosse ontem, tudo o que aconteceu.
Seu pai, o rei Oduvaldo, sofrera grave acidente quando caçava, ficando enfermo por longo tempo, sem jamais recobrar o juízo, vindo a desaparecer numa noite tempestuosa, quando fugira dos seus aposentos no palácio.
Na linha de sucessão estavam a rainha Genoveva e os príncipes Martinho e Agostinho, ainda crianças.
Foi quando Sebastião, ávido de poder, convenceu a rainha a contrair núpcias com um nobre estrangeiro, que se apresentara no reino algum tempo antes do trágico acidente com o rei Oduvaldo.
Seu nome era Teobaldo, um tanto simplório, era muito amigo de Sebastião, e, uma vez casado com Genoveva, soube cativar os enteados, fazendo deles seus aliados.
No inicio do reinado de Teobaldo, Sebastião ocupava destacada posição na corte, sendo quem de fato governava o país.
Da união entre Teobaldo e Genoveva, nasceram os príncipes Simão e Lapão, que foram educados sob os severos conselhos do intrigante Sebastião.
Com o passar do tempo, a relação entre Martinho e Sebastião tornara-se difícil, com as suspeitas levantadas pelo primeiro sobre os desvios de impostos, principalmente nas províncias que eram administradas por Sebastião. As crescentes suspeitas colocaram em cheque o prestígio que o tio de Martinho, a tal ponto que o rei, outrora seu aliado, aconselhou-o a deixar a corte e exilar-se em suas propriedades na banda ocidental do reino, onde possuía uma fortaleza, bem guardada e tida como inexpugnável.
As hostilidades entre Sebastião e Teobaldo degeneraram, chegando à luta armada, e numa sangrenta batalha o rei fora mortalmente ferido, fragilizando a defesa da ordem em todo o reino.
A morte do rei Teobaldo desencadeou tremendas desordens por toda parte, já que o reino se dividira entre os partidários de Martinho, que legalmente seria o herdeiro do trono, contra os aliados de Sebastião, que pretendiam coroa-lo o quanto antes. Sebastião fazia acordos com reinos vizinhos, que, aliados, moviam tropas para as fronteiras, criando várias frentes de combate para o exército real.
Diante de toda esta instabilidade, a rainha Genoveva, abalada, abdicou do trono em favor de Martinho, que logo após a rápida cerimônia de coroação, tratou de enviar embaixadores para negociar a paz com os beligerantes reinos vizinhos, neutralizando as ameaças externas, enquanto lançava-se ferozmente sobre os exércitos de Sebastião.
As lutas sangrentas e o caráter fratricida da contenda em nada enobreciam as vitórias alcançadas. Havia somente um ponto de honra: varrer do país aquele que enodoara o povo com tamanha vileza, que trouxera guerra para dentro dos lares dos truânios.
Os jovens meio-irmãos de Martinho, Simão e Lapão, tomaram partidos contrários na guerra. Enquanto Simão lutava ao lado das hostes reais, Lapão refugiava-se na fortaleza de Sebastião, após odienta traição que culminou com a derrota das tropas comandadas pelo marechal Angus.
O próprio Lapão guiou as tropas que se bateriam com o exercito de Martinho nas planícies do noroeste. Por fim o traidor caiu morto pelas mãos do rei, enquanto Simão, juntamente com agostinho, derrotava as tropas comandadas por Sebastião, encurralando-o e depois o aprisionando na Torre de Juno.
Foi Simão quem levou até Martinho a notícia da captura do seu tio rebelde, e o acompanhou até o cárcere.
Conduzido até a cela de Sebastião, Martinho pede que todos se retirem, pois antes de proferir a sentença contra o prisioneiro, quer ter com ele uma derradeira conversa.
Martinho lança um pesado olhar para Sebastião, que, arrogante, está acorrentado num canto da cela.
- Sua loucura acabou Sebastião. Incendiaste o país com sua insana sede de poder. Traiu a todos. Traiu a seu rei, a sua família, ao seu país. Não és digno do ar que respiras nem da terra que sustem seu corpo.
- É rei agora, sobrinho. Podes fazer o que quiser. Porque não me mata logo?
- Mata-lo não me faria melhor que você. Assassinou meu pai, traiu a todos e acredita que só merece morrer? Sim. Um dia morrerás, como todos nós, mas não serei eu o teu algoz, e sim o tempo.
- Manterá um traidor como prisioneiro? És um tolo.
- Basta! Já tomei a decisão e não recuarei. Se tivéssemos nos enfrentado em um campo de batalha, não hesitaria em mata-lo com um só golpe de espada, porém não me é fácil esquecer o passado. Se tudo hoje soa falso, cabe a mim lamentar comigo mesmo por ter sido tão crédulo para ama-lo, meu tio. Quando meu pai morreu, transferi para ti todo o afeto que a ele dedicava, tu bem o sabes. Não o matarei apenas por isso, mas jamais terás a liberdade de volta. Não o verei mais, nem eu nem qualquer outra pessoa. Sua cela será vedada para que luz alguma nela penetre. Não saberás quando é dia ou noite. Ninguém te dirigirá a palavra jamais. A tua pena é esta, até o dia da tua morte. Aí serás libertado.
Impropérios de toda sorte irrompiam da boca colérica de Sebastião, tanto que, acreditando que fosse atacar o rei, Agostinho e Simão invadiram a cela para acudi-lo.
Martinho ditou a sentença, que foi cumprida à risca.
O tempo, algoz de Sebastião, era medido apenas pela refeição diária do preso. O silêncio e a escuridão eram sua companhia, além dos ratos e baratas que povoavam a cela.
Passaram-se muitos anos de reinado de Martinho, até que um terrível pesadelo o despertou atordoado.
- O que houve meu senhor, um pesadelo? Acorreu solícita a rainha.
- Sim, sonhava que Sebastião se apoderava de nossa filha Dimitra.
- Mas é impossível. Ele está preso, e possivelmente à morte, pelo tempo que já está lá.
A rainha tinha certeza do que falava. Não havia por que temer que Sebastião fizesse algum mal à princesa Dimitra, que estava segura na companhia de seu tio Agostinho.
- Você está certa, querida. Agostinho cuidará bem dela até retornar ao palácio.
- Volte a dormir meu senhor. Boa noite.
Mas em seu coração, Martinho abrigava um sentimento estranho que o apavorava.
Dois dias se passaram tranqüilos, quando um mensageiro chegou ao palácio trazendo uma notícia angustiante.
- Como ela desapareceu? Explique-me agora! Exaltava-se o rei.
- Meu Senhor, a princesa Dimitra saíra a passeio pelos arredores do castelo, acompanhada por cinco jovens cavaleiros. Como demoravam a retornar, o príncipe Agostinho mandou que uma milícia os localizasse, porém somente foram encontrados os corpos dos cavaleiros, todos degolados, mas não havia qualquer sinal da princesa. As buscas continuam, e o príncipe Agostinho pediu que o avisasse e mandasse ajuda.
- Irei pessoalmente organizar as buscas à minha filha.
As buscas eram intensas, porém não lograram êxito. Martinho, desconfiado, dirigiu-se ao cárcere de Sebastião, com sinistros pressentimentos.
A cela mergulhada em espessa treva por tantos anos, recebeu como uma ofensa, a luz que antecedia a entrada de Martinho, que logo percebeu em um canto a miserável figura de seu tio Sebastião.
- O que queres aqui! Bradou Sebastião, rouca e arrastadamente. Vá, deixe-me morrer sem ter que vê-lo novamente, desgraçado.
- Dimitra desapareceu. Que tens com o caso?
- Estúpido, como poderia fazer qualquer coisa neste cárcere? Vá embora! Fora daqui!
- Velho miserável, posso abreviar-te o sofrimento, é só dizer-me onde está Dimitra.
- Não sei de nada, mas folgo em saber que sofres com o desaparecimento da luz de teu coração, como fizeste à minha vida.
- Apodrecerás vivo antes de morrer!
Martinho, colérico, deixou rapidamente a Torre de Juno, sem saber o que faria para encontrar a filha.
Dimitra, única filha de Martinho, era a herdeira direta do trono, e estava prometida a um príncipe estrangeiro, cujas núpcias não tardariam a realizar-se.
Agostinho, ao encontrar seu irmão, pede-lhe perdão por não ter sido tão cuidadoso como deveria, nos cuidados com a sobrinha, colocando-a em perigo.
- Meu caro irmão, eu acredito que temos uma importante pista. Alguns camponeses afirmam ter visto Simão próximo ao local do desaparecimento, mas não conseguimos encontra-lo em parte alguma.
- Simão? Isto é de fato muito estranho, uma vez que sempre fora devotado súdito, tendo lutado bravamente na guerra contra Sebastião. Ele tem uma pequena fortaleza nas montanhas do norte. É para lá que nós iremos. Arregimente bons soldados imediatamente. Sairemos ao amanhecer.
Simão, irmão mais moço do rei Martinho, guardava de há muito secreta paixão pela sobrinha Dimitra, e não soube suportar o anúncio do noivado dela com um príncipe estrangeiro.
Seqüestrou-a com a ajuda de um grupo de mercernários, e a mantinha prisioneira em sua fortaleza, onde abusara diversas vezes de sua prisioneira, satisfazendo seu instinto animal, conspurcando sua pureza em proibida junção carnal.
- Se não podes ser minha, por causa de leis estúpidas, o serás pelo império dos meus desejos.
Ele forçara Dimitra diversas vezes, possuindo-a animalescamente, no cárcere que lhe impôs.
Ela, moral e fisicamente abalada ante a violência sofrida, quedara-se em mutismo total, não emitindo sequer uma palavra enquanto olhava fixamente para coisa alguma, deixando apenas correr por sua face, ininterruptamente, um sofrido pranto. Mas isso não intimidara seu impulsivo e apaixonado tio, que a possuíra sôfrego, satisfazendo completamente suas fantasias indecentes e libidinosas.
Já ciente do paradeiro de Dimitra, graças a testemunhos de alguns camponeses, Martinho e Agostinho chegaram até a fortaleza de Simão com um considerável exercito. Os soldados do rei atacaram ferozmente, e em algumas horas conseguiram por abaixo o portão frontal, derrotando os mercenários de Simão, que tendo sido feito prisioneiro, informou onde estava a princesa seqüestrada, sendo de imediato executado pelo furioso monarca.
A princesa, ao ser resgatada, relatou tudo que sofrera nas mãos do tio Simão, encontrando todo apoio dos pais, mas sua estabilidade emocional estava arruinada para sempre, e seu futuro casamento não fora adiante. Tudo ia bem até o momento em que surgiram os primeiros sinais de sua gravidez.
Martinho, preocupado com a vergonhosa nódoa que manchara a família, chegou a pensar em matar sua filha, para resguardar a imagem da realeza, mas foi dissuadido pela rainha.
- Mande-a a um convento até que nasça a criança. Veja bem, ele tem o sangue da família, sendo assim o legítimo herdeiro do trono. Não precisamos de um aventureiro de outras terras para dirigir nosso povo após sua morte.
- Mas será um bastardo! Um maldito bastardo!
- Diremos tratar-se de nosso filho, ninguém saberá de nada, senão nós dois.
- É sensata minha querida. A pobre Dimitra jamais recobrará a saúde após este doloroso trauma.
E assim foi feito.
Dimitra fora enclausurada num convento até que nasceu seu filho bastardo, que o rei tomou para si como seu verdadeiro filho, dando-lhe o nome de Abelardo.
Transcorreram tranqüilos mais alguns anos, até que a espada de Dâmocles caiu de vez sobre o rei Martinho.
O velho Sebastião ainda mantinha-se vivo, alimentado pelo ódio e pela sede de vingança. Apesar das ordens do rei, a vigilância sobre aquele miserável prisioneiro não era mais tão severa, já que ninguém poderia supor que um homem naquele estado tivesse forças para fazer qualquer coisa. Mas Sebastião tinha.
Logrando escapar da prisão, aproveitando-se da frouxa vigilância, seguiu por mais de uma semana na direção do palácio real, esgueirando-se por bosques e campinas, até alcançar seu objetivo.
No palácio, a notícia de sua fuga causara grande ansiedade e redobrada vigilância, muito embora ninguém esperasse que ele aparecesse por lá para vingar-se do rei.
Mas estavam enganados, pois esse era o intento do velho Sebastião. Conhecedor das passagens secretas que levavam ao palácio, não foi difícil entrar sem ser visto, e alcançar as dependências reais, por corredores secundários há muito esquecidos. Sebastião, movido somente pelo ódio, chegou a uma sala secreta, onde guardara terríveis venenos, que serviram a seus fins políticos, antes de cair em desgraça.
Naquela noite ele esgueirou-se pelos secretos corredores até entrar nos aposentos do rei. Silenciosamente ele despejou um poderoso veneno nos ouvidos de Martinho e sua mulher, que morreram enquanto dormiam.
Sentindo-se vingado, Sebastião guardava em sua boca murcha e purulenta um odioso sorriso que o acompanhou até a morte, que não tardou encontra-lo, apenas algumas horas depois de deixar o palácio, pelas passagens secretas que lhe facultaram cometer o duplo assassinato.
Alguns piedosos camponeses que encontraram seu corpo esquálido jazendo num campo de trigo, enterraram-no no mesmo dia dos funerais reais.
A morte dos reis trouxe ao trono o devotado irmão de Martinho, o príncipe Agostinho, que se fez tutor do jovem Abelardo até que estivesse apto a assumir o governo da Truânia, sendo coroado rei. Abelardo soube usar os ensinamentos recebidos de seu tio Agostinho e de seu pai e avô, Martinho, para governar com sabedoria e justiça por muitos e pacíficos anos.
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