Neste programa novo da Globo, No Limite, os participantes foram obrigados a comer olhos de cabra. Bela porcaria, mas há que reconhecer que ficaram muito bem naquele pote com gelo picado. Um luxo. Imagino que nos restaurantes mais sofisticados já devam estar servindo olhos de cabra ao custo aproximado de R$ 50,00 por unidade, dependendo da cabra. Dizem que as cabras ruivas tem poderes muito mais pronunciados, elevando o custo dos olhos para mais de cem. Dólares. Os olhos da cara, como se diz. Não, não se preocupe, o limão já está incluído e também o sal.
Isto nos restaurantes mais finos. Nos mais populares, o olho sai por menos de dez, mas nunca se sabe que olho se está comendo. Nos botecos, ao lado daqueles vidros com ovos duros, aqueles que vêm em várias cores, já estão colocando vidros de olhos. Não resisto ao trocadilho e informo que há quem ofereça olhos de vidro, se bem que neste caso, são para decoração de ambientes. O pessoal passa no boteco antes de ir para casa, toma um chope, come um olhinho e já leva meia dúzia embrulhados para a mulher não dizer que nunca é lembrada.
Muito bom isto de comer olhos de cabra. Valoriza o produto nacional, dando novo alento à pecuária caprina, sobretudo a nordestina. Se bem que tem gente que está dizendo que inventaram tudo isto porque a criação de cabras do Dr. Marinho não estava indo bem. Dizem que, assim que a moda pegar e já não houver cabras nacionais, ele vai vender cabras importadas do norte da Síria a preços exorbitantes. Tudo estaria planejado em detalhes. Eu acho que o povo fala demais.
Não vejo muito problema nisto de comer olho, desde que se observe alguns cuidados. Na realidade, um só. Em nenhuma hipótese deve-se olhar o olho de frente, encará-lo. Se os olhares se cruzam, o problema está criado e aí não há quem consiga ingerir o tal olho. Pense bem. Você e o olho. Você olha o olho e o olho olha você. Você observa o olho e o olho observa você. Na terceira vez, cria-se um empatia entre você e o olho que torna a ingestão impossível. Quantas paisagens terá visto aquele olho. Quantos segredos. E a cabra? Reduzida a um olho. Todo um rebanho sobre um palmo de gelo picado. Há quem relate algumas piscadas cúmplices. Outros, lágrimas furtivas.
É incrível como a televisão nos faz pensar.
Escrito em 15.08.2000
Publicado na Seção Comentários do Cidade Virtual Brasília em 19.08.2000
