XAROPE PRAS DORES DO BENÉ
(Meu amigo Generoso)
- Hull de La Fuente -
Pra ferida do seu peito
Eu posso te socorrer,
Tenho o remédio perfeito,
Mas difícil de fazer.
Com erva de carrapato
Cinco dentes de leão,
A chuteira ou sapato
De alguém da seleção,
Calcinha da mulher-gato
Pra fazer uma infusão.
Não esqueças de botar
Uns fios de barba de bode
Que é pra contrabalançar
O comigo-ninguém-pode.
Ponha só quatro folhinhas
Da erva barbatimão,
Dando umas mexidinhas
Com o pé de um “gavião,”
Mas tire dele a cueca
Que pra não ter reversão.
E quando junho chegar
Pegue a flor do ipê roxo,
Mexa bem sem se cansar,
Com penas de urubu coxo.
Gotas do grito da arara,
Cantar do uirapuru,
O rabo do pirara
Pra misturar no angu,
Pões carne seca na vara,
Vai ficar bom pra chuchu.
Quanto ao modo de usar,
Este é o grande segredo
Tu tens que te lambuzar
No xarope sem ter medo.
Depois pegues uma taça
E enchas até o meio,
Vai ter gosto de cachaça,
Deves beber sem receio
Engula toda a mangüaça
Mas não diga nome feio.
Meu amigo eu te asseguro
Que com um xarope assim,
Tu vais ter lá no futuro
Mais mulher do que capim.
Elas vão te procurar
Para te pedir ajuda,
Vão todas se insinuar,
Vais ver como a coisa muda.
Mas não vás se enredar
Com teúda e manteúda.
E aquela morena e tanto
Que um dia a sorte te deu
E quase virastes santo
Do tanto que a abateu,
Esqueça-a lá no canto
O que servia já deu.
Quanto à aliança d’ouro
Do dedo dela arranque,
Pois te deu chifre de touro
Tu sofreste o bastante.
Tome o xarope da amiga
Que num é feitiçaria,
Pois mata também lombriga
Se tomado dia-a-dia.
Receba o meu abraço
E o meu aperto de mão,
Pois tudo o que eu faço
Eu coloco o coração,
Do qual te dou um pedaço
Pra te curar a paixão.
Ao meu amigo querido, Benedito Generoso, cordelista dos maiores, humorista fabuloso.
|
