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Discursos-->Homenagem / Palestra -- 14/12/1999 - 23:36 (Vânia Moreira Diniz) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Pronunciada para um pequeno número de admiradores que conheceram o escritor, político e jornalista Monte Arraes, já falecido, a quem queriam prestar uma homenagem.


SENHORES
Não sei nem mesmo como a emoção consegue deixar-me falar aos senhores os quais eu sempre admirei com convicção e isso se me afigura algo tão importante que chego quase a não acreditar que estou aqui.
Venho aqui falar de um homem excepcional, que infelizmente já não está entre nós, um homem, que para coroar a minha felicidade e emoção era meu avô. E ele era Raimundo de Monte Arraes.
Foi Assaré, um pequeno município cearense que o viu nascer. E foram o Cel. Nicolau de Albuquerque Arraes e Dna. Maria Brasilina Arraes que o puseram no mundo. O Cel. Nicolau era político conhecido na região e homem de valor, e Dna. Brasilina, mulher corajosa do sertão cearense. Posso assegurar aos senhores que aos 90 anos, ela ainda andava a cavalo pelos arredores do Crato, com a mesma desenvoltura de anos anteriores.
Isso me faz lembrar meu avô. Alto, forte, moreno, de traços bem marcados e físico vigoroso, era o exemplo da vitalidade e da energia. Não é de admirar, portanto, que ele tivesse nascido dessa mulher estranhamente incomum.
Muito cedo presenciou algo que só uma sólida estrutura poderia tolerar. Viu, aos 14 anos, seu pai morrer assassinado, vítima de ódio político.
Ao falar isso revejo a estranha mansidão de Monte Arraes, sua figura simpática e amiga e pergunto aos senhores: como conseguiu ele ser bom e generoso, quando vira tão cedo, exemplo de covardia e violência? Terá uma resposta? Ou teria sido uma reação psicológica?
Quando o Cel. Nicolau Arraes morreu, foi desestruturada toda uma família, porque além de tudo, os perseguidores de seu pai não aplacaram a sua sede de ódio e queriam estender isso a toda uma família.
Imagino meu avô, fugindo de tudo com o resto de seus familiares, abandonando sua terra e sua gente, deixando para traz o povo que amava e posso sentir dentro de mim, pelo menos uma sombra do que ele passou. Correndo em meu sangue os mesmos gens que corriam no dele, posso avaliar, quase com segurança, que, Monte Arraes sofreu horrores.
Revejo-o na linda casa da Gávea, há anos atrás, já tranqüilo e realizado, amando a todos, sólido e feliz e tento vê-lo sofrendo o horror da perseguição, perseguição essa que provavelmente ele, muito criança para tanto, não entendia.
A família se instalou no Crato e tentou recomeçar a vida. Monte Arraes, parecia querer seguir a carreira de advogado. Era seu sonho. Nascera ele numa época em que o direito não era uma profissão em que se fazia um curso regular, mas fruto da prática e do estudo particular. E meu avô tornou-se um autodidata da carreira de advogado. à força de ler demasiadamente, de estudar intensamente, da praticar, tornou-se profissional de direito. Correndo por aquelas cidades do interior cearense, tinha a persuasão necessária para se fazer entendido e convencer a maioria das pessoas.
Monte Arraes como todo ser humano tinha qualidades e defeitos. Sempre achei que seu maior defeito fora aquele narcisismo intelectual que eu, criança ainda, percebera. Mas esse narcisismo, creio que era conseqüência da sua sede sempre crescente de saber mais, da cultura algo invulgar e da inteligência incrivelmente imensa, vibrante e caracterizada pela palavra fácil, monopolizadora, capaz de encantar seus ouvintes. Tinha também o defeito de achar sempre que tinha razão. Creio que aqueles que o conheceram, concordam comigo. Essa mania de achar sempre que tinha razão, causou alguns problemas para ele em relação a seus familiares e amigos íntimos, facilmente contornáveis, entretanto, pelo seu temperamento misto de intolerâncias mas com nuances profundas de ternura e carinho.
O jornalismo, a advocacia e a política, foi o trio no qual iniciou a sua movimentada vida. Mais tarde os livros que viria a escrever se tornariam uma espécie de determinação idealística.
Lembro-me dele andando de um lado ao outro de seu gabinete, na casa da Gávea, falando e ditando para Dna. Diva, sua secretária particular, que todos os dias muito cede, chegava para escrever à máquina o que ele dissertava.
A carreira de meu avô foi crescente e muito bonita. Começou, é lógico, em sua terra, como advogado e também como redator e diretor do "Diário do Estado", fundador e diretor do "Jornal do Comércio" e finalmente, proprietário e diretor de "A Razão". vindo para o Rio, tornou-se um dos fundadores do jornal "A Manhã".
Gostaria que os senhores entendessem, como é difícil para mim deixar de me emocionar, ao falar sobre esse avô querido, admirado por mim e que foi em certas ocasiões o leme que me guiou, conduzindo-me através de caminhos mais fáceis.
Desculpem-me, portanto, se vez por outra, as lágrimas, apesar de meus esforços, turvarem os meus olhos. Desculpem-me, por favor.
A Revolução de 1930, direcionou a sua vida política, tornando-o Secretário de Agricultura Comércio e Obras Públicas. Acabando seu mandato, mudou-se para o Rio Grande do Sul onde exerceu profusamente a advocacia. Em 1934 elegera-se Deputado Federal pelo Ceará e fez parte da Comissão de Educação e Cultura sendo o Relator Permanente e das de Reorganização das Caixas Econômicas, Plano de Educação Nacional, Estatutos da Mulher e Simplificação Ortográfica da Câmara.
Não posso deixar de ver Monte Arraes, sempre no seu bairro da Gávea, sentado em sua poltrona preferida, deixando esparzir ante os espectadores encantados, o dom da sua palavra encantadora, inteligente e sumamente envolvente.
Ao ver os senhores, muitos dos quais o conheceram, emociono-me profundamente pensando, o quanto meu avô ficaria sensibilizado ao me ver aqui, falando aos maiores amigos de seus dias gloriosos. Ele que cultivou com carinho invulgar a semente de algo que considerava o dom de escrever e que inoculava em meu espírito com extrema paciência; ele que foi o meu líder e guia nas horas em que me via desanimada e sem nenhuma vontade de escrever, que sabia me transmitir com majestosa inteligência a sua vasta experiência, gostaria, tenho certeza de estar aqui, neste momento, feliz e sensibilizado.
O Estado Novo se instalou no Brasil em 1937.
Seu genro, meu pai, costuma nos contar algo muito interessante e que revela o curioso e excêntrico temperamento de Monte Arraes. Já dissolvida a câmara, o Presidente Getúlio Vargas, teria lhe oferecido um cartório, coisa que principalmente na época, todo mundo almejava.
O Presidente, naturalmente achava que ele aceitaria incontinente. Enganara-se, no entanto. Meu avô pediu ao Dr. Getúlio Vargas, 48 horas para pensar. Acabou aceitando, à força da ponderação de seus amigos. As pessoas que não o conhecem poderão até achar que era uma tática. Não. Não era. Eu lhes asseguro. E digo isso porque conhecia a extrema espontaneidade daquele homem ao mesmo tempo requintado e simples.
Meu avô era uma pessoa de extremos. Se ele gostava, gostava demais; se ele admirava, admirava demais; se ele se dedicava, dedicava-se demais. E apesar de às vezes dizer às pessoas, coisas duras no seu velho exagero, nunca o ouvi falar palavras de ódio verdadeiro contra alguém. Podia, é claro, dissertar desfavoravelmente sobre aquela pessoa. Mas nunca odiando, nunca prejudicando.
Isso me faz lembrar um episódio que tomei conhecimento quando era muito pequena, mas que nunca saiu da minha cabeça. Ouvi quando meu avô conversava com minha mãe e minha tia, sobre um fato deveras singular. Ele havia encontrado, por acaso, não sei dizer como, o filho do assassino do seu pai. Conversando, acabaram localizando-se e um acabou sabendo quem era o outro. Não tinham ressentimentos. Pertenciam já a uma nova época e não tinham culpa da rivalidade de suas famílias, nem queriam ter. Monte Arraes convidou-o para ir jantar em sua casa. Tive oportunidade de ouvir, sem no entanto compreender muito bem, a discussão dele e de suas filhas, estas achando que não era justo trazer para dentro de casa, alguém que era filho do homem que matara o avô delas.
Mas ele, naquela sua lógica, cheia de discernimento e humanidade, perguntara com incrível persuasão.
Como? Não trazê-lo aqui? Porque não? Ele tem valor e não tem culpa dos atos do pai. Aquilo, ou seja, aquele episódio me marcou positivamente. Compreendi desde muito criança e através do grande escritor e político cearense que a individualidade das pessoas existe, apesar do mesmo sangue e dos mesmos gens.
Não sei se esse homem, acabou indo afinal à sua casa. Só sei que teria sido recebido com muita gentileza se o fosse. Isso é tudo que sei sobre esse pequeno mas confortante capítulo da vida de meu avô.
O carisma de Monte Arraes era algo incontestável. Acho que até seus inimigos, se é que os tinha, concordavam com esse charme incrível de sua simpática figura, que o transformava em alguém exageradamente sedutor. Sua figura envolvente, amena e ao mesmo tempo forte, sua atenção com as pessoas em geral e a estranha e rara persuasão de uma presença marcante, faziam do grande escritor, alguém que todos rodeavam e gostavam de ouvir. Recordo-me de sua casa sempre cheia, das conversas sedutoras principalmente para minha cabeça infantil e das agradáveis férias que sempre passei na Gávea. Ali, havia um estranho mistério que me fazia cativa dos seus encantos. Apesar de morar com meus pais em Copacabana, ali era o meu mundo misterioso.
Acredito que fosse a própria figura de meu avô e o que emanava dele, o que me fazia sentir-me assim.
Extraordinariamente alto e forte, uma vitalidade intensa exalava de toda sua pessoa e não podíamos olhá-lo sem termos a impressão de força e saúde. Tanto o rosto moreno de traços vigorosos, como o corpo robusto e incrivelmente saudável, contribuíam imensamente para dar-me uma sensação de estranha segurança. E eu acho que essa segurança em termos diferentes, é claro, era transmitida para a maioria das pessoas que por uma razão ou outra conviviam com ele.
Era casado com Alice de Medeiros Arraes, minha avó. Uma bela senhora, que como as mulheres finas do tempo antigo, tocava piano, tinha a postura perfeita e andava sempre elegante e sobriamente vestida. Eu ouvia, as amigas de minhas avó e pessoas que a conheceram na mocidade falarem dela como uma mulher linda e elegantíssima, que encantavam pela sua graça e traços perfeitos. Alice compreendia inteiramente esse homem contrastante, sincero, espontâneo, exageradamente inteligente, de idéias próprias, numa vida agitada e eletrizante, que era capaz de sorrir com a mesma naturalidade com que ficava com os olhos marejados de lágrimas ao emocionar-se por alguma razão particular e especial.
Nunca, em nenhuma ocasião, e garanto aos senhores, que não é apenas numa força de expressão: nunca, em oportunidade alguma, vi meus avós discutindo ou estremecidos. Sei que não estou aqui para falar de minha avó. Mas também sei que os senhores terão um pouco de paciência para ouvir rapidamente minha homenagem interior a essa mulher valorosa. Mulher encantadora extremamente doce e gentil, a compreender a vida e o temperamento de meu avô. Era também inteligente, de uma inteligência cujos laivos de discreção jamais interferia por índole e placidez no eloqüente turbilhão que era a de Monte Arraes.
Acho que meu avô foi, apesar de sua conturbada vida, um homem realizado, feliz com ele mesmo e com as pessoas, disposto sempre a dar uma palavra de alento e carinho àqueles que passavam por uma necessidade qualquer. Eu mesma, quando alguma coisa me perturbava, costumava ficar sentada perto dele, a filosofar. E garanto aos senhores que o jornalista e escritor cearense era um filósofo congênito por assim dizer.
Jamais o vi deprimido ou com pensamentos negativos, porque sua filosofia arejada e otimista o levavam a uma vida interiormente rica e feliz.
Ele, excêntrico como era, tinha um conceito que considero muito verdadeiro. Achava mesquinha todas as pessoas que se deixavam dominar pelo dinheiro e pelo ciúme. Dinheiro, dizia ele, era feito para gastar e para ajudar e não tolerava as pessoas que o guardavam com ganância e que não eram abertas nesse setor. Quanto ao ciúme, achava que era uma falha de caráter, uma insegurança pequena demais para ser levada em consideração.
Os ciumentos - costumava dizer - são fracos de cabeça e de caráter. Era uma teoria, toda sua, extremista como tudo que ele opinava, é verdade, mas verdadeiramente interessante.
Realmente, achava meu avô um homem fascinante. Uma pessoa que jamais se envergonhava de dizer o que pensava, fosse o que fosse. Mas agora faço um preâmbulo: como esse homem carismático e brilhante; inteligente e perspicaz; realista e humano; bondoso e compreensivo; exuberante em seu gênio turbulento e profundamente carinhoso, poderia parecer por vezes um esnobe? Mas o que certas pessoas entendiam como esnobismo, era apenas a finura incrível, o requinte de maneiras e a sobriedade sutil da linguagem ao mesmo tempo extravasante e perfeccionista.
Sei que muitos dos senhores deverão achar que estou fazendo uma análise muito parcial do ex-Deputado cearense. Mas aqueles que lhe conheceram, muitos dos quais se encontram aqui mesmo, sabem que meu parecer sobre a personalidade de meu avô não extrapolou o limite do que realmente era.
Sei que não tenho nem posso ter nem de longe, a cultura e o discernimento dos senhores para uma análise perfeita. Mas tenho consciência do que estou falando. E o que estou dizendo é meticulosamente verdadeiro.
Ao descrever o lado humano da sua figura, empolguei-me tanto que me demorei a continuar um pouco da sua biografia.
No Governo Interventorial do Dr. Beni Carvalho em 1945, tornou-se Secretário do Interior e da Justiça.
Como escritor, o brilhante advogado tornou-se um dos mais versáteis que já conheci. Ele escrevia sobre filosofia, história, política e literatura, com a mesma desenvoltura. E seus livros, foram se modernizando e aperfeiçoando em teorias cada vez mais analisadas e mais perfeitas. Pelo menos, acho que era isso que ele esperava.
Muitas vezes, notamos de um livro para outro, uma evolução de idéias, de raciocínio e mesmo de teorias. E é isso que me fascinava no temperamento e no caráter de meu avô. Havia sempre uma evolução, sempre uma vontade de se aperfeiçoar e de transmitir conhecimentos corretos e seguros.
Revejo Monte Arraes, falando e enunciando seu saber a um grupo de estudantes de direito que freqüentavam sua casa com assiduidade. Claro que não saberia dizer agora o que ele falou nessas várias ocasiões porque eu era apenas uma criança. Mas o que me encantava era o dom que esse homem tinha de seduzir os espectadores, fazendo-os cativos de suas palavras a um tempo eloqüente e simples. Era esse poder de persuasão que era, por assim dizer, um dos traços predominantes de sua índole estranha e marcante.
E não eram só os estudantes de direito que o procuravam. Vi pessoas de diferentes profissões freqüentarem aquela roda.
Era um psicólogo em potencial, pronto a explodir suas concepções avançadas e disposto sempre a compreender a alma das pessoas, o que se escondia nelas e o que se poderia tirar de essencial, fosse quem fosse.
Tenho a impressão que meu avô, era um eterno estudante do caráter e da personalidade humana, querendo sutilmente entrar na psiquê das criaturas, para que fizesse fluir os elementos que formariam suas novas e extravagantes idéias, porque no fundo, ele achava que tudo e todos eram uma transformação constante e crescente.
O que também me fazia uma admiradora desse homem singular era a simplicidade cheia de magnetismo com que ele mudava de opinião sobre uma pessoa e era capaz de dizê-lo, sem constrangimento.
Fui testemunha de pessoas sobre as quais emitia uma opinião passageira e que depois de conhecê-las, mesmo superficialmente, sabia mudar com perícia a sua análise. É verdade que muito pouco acontecia isso, porque psicólogo inato que era, percebia o íntimo e o caráter de qualquer um com incrível facilidade. E o que me impressionava sobremaneira no notável escritor era a sua facilidade de perdoar.
Acho que amava tanto a vida, que compreendia tanto as pessoas, que sentia tanta necessidade de se envolver e de amar, de ser querido e de querer, de visualizar o lado bom de tudo e de açambarcar num olhar, um mundo cheio de contrastes, que perdoar para ele era como rezar ou ensinar. Creio que os senhores concordam comigo na beleza do perdão. E meu avô, que era um líder e amigo, professor e guia, orientador e uma espécie de mágico da palavra, era também, o mágico do perdão.
Eu já era uma moça e já estava casada, quando pela primeira vez vi meu avô doente. Foi operado e durante muitas vezes visitando-o, parecia que ele se recuperava com grande facilidade.
Foi num dia quente de verão carioca, que indo à sua casa, meu marido e eu, pediu-me que sentasse perto dele e olhando-nos com carinho, enquanto eu perguntava se ele sentia-se bem, respondeu-me mansamente.
Sim, minha filha. Eu me sinto. Mas nesses poucos dias no hospital, aprendi muito mais do que em toda minha vida.
Perguntava a mim mesma como alguém como ele que tivera sempre uma vida agitada e cheia de lances diferentes, pudera ter aprendido em tão poucos dias, mais do que nela toda.
Meu avô conhecia-me profundamente para entender o que se passava comigo. Virou-se na cama com dificuldade e fitando-me, no seu jeito manso e extremamente doce, que era a marca de seu temperamento, falou:
– Sim, minha filha, aprenda uma coisa. Só quando estamos indefesos, é que tomamos consciência do valor das coisas. Enquanto estamos fortes e saudáveis, não sabemos avaliar quase nada. Mas ali, naquele hospital eu não dependia de mim mesmo. Eu que me achava auto-suficiente, vi o quanto dependia daquelas jovens enfermeiras e do médico para me manter firme e vivo. Foi uma lição de vida, que só absorvi agora, próximo ao fim.
Fiquei triste ao ouvi-lo. Parecia uma premonição. E talvez fosse.
Dois dias depois, e por estranha coincidência, dia de eleição, meu pai telefona-me cedo, pedindo-me que fosse à casa de meu avô, pois ele estava muito mal.
Ao chegar, vi que meu pai não tivera coragem de me dizer a verdade. Monte Arraes havia morrido de enfarte, mansa e excentricamente como vivera, pois só depois do médico sair, dizendo que tudo estava bem, ele apagara simples e docemente, na mesma casa da Gávea, que o vira próspero, feliz, homenageado e delirante de vida.
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