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Contos-->O palitinho -- 25/10/1999 - 12:00 (Guilherme Felipe da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O menino pegou a caixa de fósforos na cozinha.
Escondeu dentro do calção e foi lá para o
quintal. Num cantinho bem escondidinho.
Pegou uns gravetos e fez um montinho. Foi lá
dentro de casa. Buscou um pedaço de jornal e pôs
no meio dos gravetos.

Abriu a caixa de fósforos. Pegou um palito.
Quando ia riscar, ouviu um risinho. Era o palito
rindo dele.

— Você não sabe nem pegar no palito e quer fazer
fogo?

O menino ficou olhando, ressabiado. Tentou de
novo.
— Ô, cara! Você tá parecendo bobo! Onde já se viu
riscar fósforo desse jeito?

O menino começou a chorar e voltou correndo para
casa. Entrou no quarto e ficou chorando por muito
tempo com raiva.

Daí a pouco, mamãe começou a
gritar lá da cozinha:

— Quem sumiu com a caixa de fósforos? Que diabos!
Eu acabei de pôr uma caixa novinha e ela já criou
pernas!


Outro dia o menino chegou na cozinha. De
mansinho... Como quem não quer nada... Mamãe se
preparava para fazer almoço. Lavava batatas.
Descascava. Lavava tomates, alface, arroz. Ia
deixando em cima da mesa.O menino, atento, demorou um montão para tomar um
copo d’água. Mamãe concentrada na sua tarefa.

— Mamãe, deixa eu acender o fogo pra você?

— Cê tá doido, menino! Me dá essa caixa de
fósforos, anda! Vê se isso é coisa de criança!
Está querendo se incendiar e incendiar a casa
toda?

Noutro dia já tinha tomado o maior coro por causa
disso. Foi na casa da titia. Era mês de junho. À
noite, ele e os primos cismaram de fazer uma
fogueira. Já tinham preparado tudo. Pegaram uma
caixa de madeira. Desmontaram ela toda. Puseram
as tábuas uma em cima da outra formando um
quadrado. Igual à fogueira que foi feita na festa
junina.

Os pais e os tios tomavam uma cervejinha e
conversavam na área. Algumas tias ficaram no
quarto, discutindo seus assuntos. A vovó não
largava do fogão. Preparava doces e salgados para
todos. As crianças correndo para lá e para cá.

Agora, procuravam o álcool para molhar a madeira.
A avó gritou com eles:

— Quê que vocês tanto fuçam neste armário,
cambada! Vão logo pra fora! Aqui não é lugar de
criança fazer arruaça, não. Vão logo! Vão logo!

Sem o álcool para ajudar, o jeito foi pegar papel
e tufar no meio da madeira. Achar papel era fácil!

Mas, antes de alcançarem o seu intento, foram
pegos. Cada um tomou uma surra da mãe para
aprender a brincar com coisa perigosa. Só que
nenhum deles aprendeu nada.

Mas o menininho era teimoso. Queria por que
queria riscar o fósforo. Não entendia o motivo de
tanta preocupação. Por que era tão incapaz que
não poderia fazer aquilo? Era estranho, para
aquela cabecinha ansiosa, ser-lhe negada a
oportunidade de aprender as coisas.
Um mísero palito de fósforo! Tão inofensivo. Tão
frágil. Tão menor que ele.
Ele não queria dirigir um carro. Não queria mexer
nas panelas quentes, no fogão. Não queria
consertar o chuveiro nem o relógio. Nem fazer
outras coisas de adultos como fumar, beber
cachaça, cerveja, falar palavrão. Só queria
aprender a riscar o maldito palito de fósforo.

Um dia vovô veio passear na casa do menininho.
Que legal!
Vovô é um velhinho bem velhinho. Cabeça
branquinha que nem um chumaço de algodão. Cheio
de histórias e brincadeiras engraçadas. Só que,
como acontece com o menino, todo mundo implica
com ele. Não pode comer doce. Não pode comer sal.
Não pode fazer esforço físico. Não pode comer
carne de porco. Não pode nada que a mamãe e a
vovó ficam brigando com ele.
Talvez por isso que vovô e netinho sempre
combinaram tão bem. Ambos são tratados da mesma
maneira.
Vovô estava sentado na varanda lendo o jornal. O
menino perguntou:
— Quando você for fumar você deixa eu acender o
cigarro, vovô?
— Claro, meu nêgo! Depois do almoço então, tá
combinado?
— Tá bem! E o menino saiu correndo, alegre.
Custou a esperar a hora do almoço para realizar
aquele grande sonho.
Acabado o almoço, o netinho não desgrudava do
velho:
— É agora, vô?
— Calma, meu nêgo! Vamos comer a sobremesa!
Comeram.
— É agora, vô?
— Só um pouquinho, fiote! Vamos tomar um
cafezinho!
Vovô pegou dois copos. Pôs um pouco de água para
esfriar o café do netinho e tomou o dele quente
como saiu da garrafa.
— Agora vamos pra varanda conversar um pouquinho.
Sentado na cadeira, vovô tirou um cigarro e a
caixa de fósforos. Pôs o cigarro na boca. Deu a
caixa de fósforos para o menino e, solene, falou:
— Agora é só acender.
O menino, todo afobado, abriu a caixinha. Pegou o
palito e começou a riscar.
— Assim não neguinho. Tem que pegar do outro
lado. Assim, oh! E o vovô pegou na mão do
netinho, ajeitando. Segure bem longe da cabecinha
para o fogo não machucar o dedinho. Agora, segure
firme a caixinha... Isso.
Antes do netinho chegar com o palito na caixa, o
vô gritou:
— Não! E amansando a voz: não puxe o palito para
o seu lado, não. Passe o palitinho do seu lado
para a frente. Assim, oh! E mostrou como. Senão o
palito pode quebrar e cair em você. Aí você pode
se queimar, tá certo? Pronto, agora vai de novo.
— Isso! Agora chegue o fogo bem na pontinha…
Calma, só o fogo, o palito não. Se encostar o
palito, ele apaga.
E o vovô deu uma puxada grande. Soltou uma
fumaçada e começou a contar para o menino.
— Olha, meu filho. O fogo é uma coisa muito
importante na nossa vida. É com ele que mamãe faz
comida. É com ele que se derrete o minério para
fazer o ferro e o aço. Mas é o fogo que provoca
grandes catástrofes. Sua mãe já te ensinou a
fazer fogo?
— Ela não deixa nem eu acender o fogão!
— Pois é. Sabe por quê? Porque a mamãe morre de
medo do menininho se machucar. Ela sabe mais de
um caso de criança que pôs fogo na casa. Que
quase morreu queimado por causa de uma caixa de
fósforos que queria brincar.
— Você precisa saber que este mesmo fogo que
cozinha a comidinha, se você não souber usar,
pode queimar a casa inteira. Se você abrir o gás
e demorar a acender, o gás espalha pela casa.
Quando riscar o fósforo…bum! Dá um estrondo e põe
fogo em tudo. Por isso que a mamãe não deixa você
acender o fogão. Para evitar que você se machuque.
Sabe porque o gás tem este cheiro forte? É para
alertar as pessoas de que tem um vazamento.
Se tiver gasolina por perto, também é perigoso.
Gasolina também pega fogo. E roupa. E madeira. E
plástico. E tanta coisa que, para evitar um
acidente grave, as pessoas grandes não deixam as
crianças riscarem fósforo.
Só que o vovô pensa diferente. O vovô gosta de
menino curioso. Que quer saber as coisas. Vovô
acha melhor ensinar a fazer direito do que ficar
proibindo e a criança ir tentar escondido. Se
você fizer um trato comigo, eu vou deixar você
riscar um monte de fósforos, topa?
O menino, já acostumado com as promessas não
cumpridas dos adultos, perguntou desconfiado:
— Qual é o trato, vovô?
— Toda vez que nós estivermos juntos, eu deixo
você acender o cigarro para mim. Quando você for
à minha casa, eu até deixo você acender o fogão.
Em troca, você nunca vai acender fogo quando
estiver sozinho ou com outras crianças. Combinado?
— Nem quando eu crescer, vô?
— Aí não, uai! Isso, enquanto você for pequenino.
— Então tá combinado!
— Então vamos dar uma voltinha.
O menininho pegou na mãozona forte do vovô e
saíram de mãos dadas. O avô com sua serenidade. O
netinho, todo orgulhoso, ao lado de um grande
sábio que lhe ensinara tanta coisa importante e
com quem tinha um trato.
Foram lá para o quintal. Num cantinho bem
escondidinho. Pegaram uns gravetos e fizeram um
montinho. Foram lá dentro de casa. Buscaram um
pedaço de jornal e puseram no meio dos gravetos.
Vovô deu uma caixa ao netinho. O netinho abriu a
caixa e pegou um palito. Quando ia riscar, viu o
palito dar uma piscadinha com um dos olhinhos.
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