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cronicas-->Velhos Animais -- 23/08/2000 - 07:14 (Maurício Cintrão) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Há quem entenda que falar do passado é exercício monótono, sinal de velhice ou falta de assunto. Não posso concordar. Lembrar é um privilégio das pessoas que viveram.

Quem experimentou a vida como um passeio ao shopping não entende muito bem dessas coisas. Afinal, rever o passado dá dimensões mais apropriadas ao que se vive no momento. Quem trafega ao invés de viver não compreende a evolução das paisagens em volta.

A possibilidade da retrospectiva é a grande
diferença entre os animais primários e os animais experientes. E ela não é medida apenas por distàncias percorridas ao longo do tempo, mas pela maneira com que se fez o percurso.

Conheço gente mais vivida do que eu que, apesar da experiência, não viveu, pegou carona.

Focar o passado, nesse contexto, é um exercício fundamental. Porque não basta olhar para trás. Às vezes, o retorno implica na releitura de erros e equívocos que muitos de nós gostaríamos de não ter cometido.

Alguns não acreditam, mas as pessoas não se constróem apenas através dos acertos. Os erros também moldam o caráter. Pequenos desastres do cotidiano dão a matéria-prima para o contraste, para a comparação, para o crescimento.

Já fui primário, em uma época em que experimentava de tudo, eu e os milhares de outros que buscavam encontrar um sentido razoável para a vida. Muitos encontraram seus caminhos. Alguns, perderam-se na busca. Vários ainda procuram.

Ouso incluir-me no grupo que encontrou algum sentido para isso tudo.

Hoje, escolho antes de experimentar. Já não experimento tudo o que escolho. Essa é a grande vantagem que faz com que cada escolha seja uma opção especial.

Busco pessoas, locais e objetos que satisfaçam a essência dos desejos serenos. Não assustam as diferenças. Não hipnotizam os encantos. Os sonhos ganharam outra intensidade.

Amar é mais difícil, sem dúvida, mas não menos empolgante. Queimar o fogo da entrega custa o óleo de certezas dificilmente abaláveis. Por isso não queimamos em vão. Mas queimamos certeiros.

Ao refletir sobre o passado, pode-se perceber o quanto foi conquistado. Perdemos muitas das conquistas, é certo, algumas por puro abandono, por desgosto ou por desuso. Mas o que restou assim ficará enquanto quisermos. Pois o património da memória revisitada é o mirante construído para vislumbrar novos futuros. Se o perdemos, desistimos do futuro.

Velhos animais que vêem o passado dessa forma podem não enxergar muito bem de perto, mas desfrutam da incrível capacidade de ver o que ainda está lá longe, ou do que está se repetindo e não precisa ter o mesmo desfecho.

Ao revisar o que passou, velhos animais não rugem. Às vezes bocejam, tenho que concordar. Mas isso não é sinal de desistência. Bem ou mal, apesar velhos, ainda somos animais e não fomos extintos. Pior: compreendemos um pouco dos mecanismos que extinguiram muitos de nós no meio do caminho.

Isso permite que enxerguemos com certo enfado a petulància dos bichinhos de pelúcia e que brinquemos com a vida enquanto a vida não desiste de nós.

Maurício Cintrão
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