Amar ao próximo é um mandamento divino. Não é fácil de ser observado porque há muita gente que não se simpatiza com nós mesmos, que também somos gente (sendo a recíproca verdadeira) e assim se instaura um inquérito ou sindicància para resolver o impasse. Tudo se resolve para o cristão com a prática das virtudes, mas o ápice do problema vai ocorrer com aquela aguda determinação de "amar até os inimigos". Aí o assunto se torna mais complexo e quem sabe , outro dia, me envolverei em explicações eventualmente satisfatórias.
Hoje estava pensando que os médicos demonstram um amor muito acentuado para com o próximo. Daí comecei a refletir , indagando se o amor deles seria ao próximo ou do próximo. Deveria ser amor ao próximo, porque a medicina sempre foi considerada nobre atividade, dedicada à cura ou alívio dos sofrimentos humanos, verdadeiro sacerdócio. Mas, desde meados deste agonizante século XX, tem-se notado que, paulatinamente, os atendimentos médicos e hospitalares foram se comercializando cada vez mais, a ponto de - nos dias atuais -, ser indispensável se possuir um plano de saúde onde, previamente, se paga por atendimento à doenças e males físicos ou mentais que possam ocorrer em futuro incerto e não sabido e que preferimos jamais aconteça.
Isso é amor ao próximo, ou do próximo ? Os diversos e "atraentes" planos de saúde propagandeiam na mídia vantagens de estarrecer (quartos com acompanhante e banheiro privativo, exames de ressonància magnética, tomografia et caterva), com preços mensais fixos, só reajustáveis em situações excepcionais...Realmente a reflexão é complicada, porque a vida em comunidade - e quanto maior mais burocrática -, exige o estabelecimento de regras para serem observadas , em benefícios de todos.
Nessa complexidade de amor ao próximo ou do próximo, só chego à conclusão, neste momento, que em determinadas situações (estou deixando de considerar os casos graves de absoluta dependência), deixamos de ser nós mesmos - perdemos um pouco da personalidade- , para dependermos do próximo (o médico). Então, esperamos que ele tenha amor para com o próximo e não proíba muitas coisas boas. Diz ele : não coma isso, não beba aquilo, corte o açúcar, as massas, as carnes e coma verdura, muita verdura e frutas, de preferência com casca (menos o abacaxi, é claro) e corra ou, ao menos, ande bastante, no mínimo 30 minutos por dia. ( Dá para dar uma "paradinha" numa Igreja?) .
E o problema da fé , como fica ? O médico seria um semi-deus a quem temos de obedecer? Temos de obedecer sempre e dar aquelas caminhadas inclusive uniformizados de bermudas, camisetas, tênis, etc. ? Ficaríamos seres mais limitados ainda ?