Sempre que posso, desvio o caminho e passo por perto do banco da praça.
É dele que gosto! Um banco igualzinho a outros bancos desertos de meio de praça.
Madeira curtida, estrutura de ferro, cravado no chão, chumbado na terra. A gente que passa nem nota que um dia sentou (ou ainda vai sentar) no banco da praça. Mas ele continua lá.
Até porque bancos não andam, você vai dizer.
É! Mas podem desmilinguir.
Este resiste. Sua cor está mudada. Em tempos de frio, o tempo e o frio roubam cores e histórias dos bancos de praça. Ainda mais nesta manhã gelada, quando as folhas secas reforçam a atmosfera de abandono destes dias.
De certa forma, renascer também é abandonar. Talvez por isso as árvores lancem folhas mortas, feito gente que se desfaz de gente e nunca mais volta ao banco da praça.
Eu não abandono meu banco da praça. Preciso renascer, recomeçar, mas não preciso ignorar o descolorido banco nesta cinzenta praça de fria manhã. Sinto-me roubado pelo inverno. Sento-me calado no banco da praça.
Deixo os pensamentos voarem com as folhas mortas, as pessoas que passam e os pensamentos que se esvaem.
Quantos encontros e desencontros já aconteceram por aqui! Tantas personagens que desconheço, com suas outras histórias e cores, chegando e saindo, amando e brigando (ou simplesmente ficando) no banco da praça.
Pessoas comuns, com sensos comuns, com vidas comuns que vêm e que passam.
Sempre que posso, desvio meu caminho se encontro vazio o banco da praça.