São 15 horas. O Hospital Pediátrico está a todo vapor. O movimento no Pronto - Socorro é intenso. Mães com filhos no colo aguardam pacientemente. No setor de triagem, crianças com sintomas simples são medicadas e encaminhadas ao ambulatório. As mais complicadas são reavaliadas no Pronto - Socorro. Os pacientes com risco de vida são levados diretamente para a emergência.
Nessa unidade, macas são improvisadas para acomodar as crianças que precisam de internação, mas não conseguem vagas em enfermarias. Alguns acompanhantes, fazem dos seus colos, leitos hospitalares, segurando com cuidado o equipo de soro. No banheiro, uma mãe que pernoitou no Pronto- Socorro dá banho em seu filho. Outra, aguarda a sua vez para fazer a higiene do seu filho , e assim, colher o exame de urina.
No corredor, crianças com diferentes ferimentos aguardam atendimento no setor de pequenas cirurgias. Logo em frente , vítimas de pequenos acidentes com fraturas , aguardam o ortopedista terminar uma consulta. De repente uma ambulància chega com uma criança vítima de afogamento. Entra direto para a emergência., sendo prontamente atendida.
Não muito longe dali, uma cena chama a atenção. Uma menino de sete anos atravessa o pátio do hospital, acompanhado por uma enfermeira. Ele está internado há dois meses no Centro de Queimados. Segundo relatos, a criança se queimou mexendo com álcool durante um churrasco. Em suas mãos deformadas pelas lesões do acidente, traz um brinquedo: um carrinho de madeira. Alheio ao corre - corre do hospital, o menino coloca seu carro na rampa que dá acesso ao Pronto- Socorro, e começa a deslizá-lo, inocentemente. Apesar das cicatrizes que alteram sua expressão facial, é possível visualizar em seus olhos, um sorriso de alegria. Com a boca um pouco torta provocada pelas queimaduras , ele imita com certa dificuldade, o som de um carro de corrida. Fica ali, um longo tempo, subindo e descendo, na estrada criada pela suas fantasias infantis. Esse menino, mesmo enfermo, internado e com graves cicatrizes , não perdeu a magia de sonhar.
Com o tempo, nós adultos, nos tornamos pessoas formais e rígidos. Esquecemos o nosso lado criança, os nossos sonhos. Formamos cicatrizes em nossos corações. Devemos pois, aprender com esse menino, a levar a vida menos a sério, e assim, manter viva nossa criança interior, cheia de fantasia e magia.