A Raposa no Galinheiro?
(por Domingos Oliveira Medeiros)
Persistem as discordàncias em torno da autonomia do Banco Central. É sinal de que o assunto não é tão pacífico como se tenta passar À opinião pública. Aliás, sem entrar no mérito da questão, basta dizer que o que é bom para os EUA, não necessariamente, é bom para o Brasil.
Ademais, o passado (recente) do Banco Central não recomenda conferir-lhe maior "liberdade" operacional. Basta lembrar o caso do banqueiro Cacciola, foragido, em sua terra natal, gastando a bagatela de um bilhão de reais; rico dinheirinho que saiu do nosso pobre orçamento. Que recebera, segundo dizem, a título de ajuda para que o seu pequeno banco pudesse "respirar melhor" e manter-se vivo. Sem riscos de quebradeira geral.
Apesar do mau cheiro, foi um verdadeiro prêmio à especulação e à má gestão dos negócios conduzidos pelo pequeno banqueiro. Como se o risco de qualquer empreendimento não fosse inerente ao sistema capitalista.
E tudo isso, pasmem, sem que o próprio Ministério da Fazenda, ao qual se subordina sobredita Autarquia, tomasse ciência prévia e pudesse, em tempo, interferir na operação e, quiçá, ter evitado tamanho prejuízo aos cofres públicos.
Depois, tem a questão das evasões de divisas. Da remessa ilegal de dólares para os paraísos fiscais. Da lavagem de dinheiro. Do crime organizado.
Não se viu, até agora, por parte de Banco Central, medidas eficazes para combater esta sangria. Ao contrário, tem-se a impressão de que é muito fácil burlar o Sistema. Difícil é prender os gatunos e reaver o dinheiro.
O Banco Central bem que poderia propor alterações na legislação específica, de modo a facilitar a recuperação dessa montanha de dinheiro que escorre, ilegalmente, para fora do país. Esbarra-se, sempre, no cipoal de leis conflitantes; na falta de acordos internacionais a respeito; no excesso de burocracia e outros empecilhos da espécie.
Por essas e outras, sou contra a medida. E fico a pensar o que levaria o governo a interessar-se tanto por ela.
Domingos Oliveira Medeiros / 11 de março de 2003