Uns acham que o ano 2000 determina o início do século XXI mas, pela contagem oficial, o ano 2000 ainda é o último ano do século XX. E essa discussão já nos deu muito pano pra manga. O que a gente não sabia é que este ano marcaria o fim de uma grande festa. Uma festa que não acontecendo subtrai do calendário uma semana de pura alegria. Uma semana musical. Aquela casa da QL 10 do Lago Sul, em Brasília, a partir deste ano, não será mais palco da comemoração do célebre aniversariante do dia 11 de dezembro.
Francisco de Assis Carvalho da Silva, o nosso querido SIX, não mais poderá comparecer.
Aquela mão, espalmada no ar, que nos saudava no Clube do Choro de Brasília; aquela voz compassada cantando "Só pra chatear" nas sextas-feiras do "Akasa" (com K), regadas com muita birita; aquele copo levantado, sempre a desejar saúde a quem chegasse no bar do António Macambira; a frequência religiosa, nas tardes de 31 de dezembro, para saborear a leitoinha pururuca do "Bar e Restaurante Beirute" (ritual organizado pelos nossos colegas do Banco do Brasil, do qual dizia que "quem faltava desaparecia do Planeta"); as estórias de suas boemias contadas com graça e uma boa dose de exagero, na "Peixaria do Deraldo" nos fins de semana (depois escritas e publicadas em livro); o emocionante solo do seu cavaquinho nas tocatas na Vila Planalto: uma tremenda covardia! (sempre brinquei com ele que seis dedos contra quatro cordas era covardia); a beleza dos choros compostos por ele; a irreverências das letras em suas marchinhas de carnaval, dizendo que "as gatinhas do Maranhão não sabem fazer miau"; o desfile carnavalesco na Sociedade Armorial Patafísica e Rusticana, popularmente conhecida como Bloco do Pacotão, fantasiado de urna, em 1986, quando o brasileiro estava se preparando para voltar a exercer o direito sagrado de votar para presidente depois de tanto tempo de arbítrio.
Essas são algumas das lembranças da convivência que tive com SIX, durante todos esses anos. Sem falar da sua solidariedade imensa com a classe dos músicos.
Na qualidade de bacharel em matemática, diplomado pela Universidade de Brasília, posso afirmar, sem medo de incorrer em paradoxo, que apesar de SIX ser um número par, sua personalidade é ímpar.
Hoje estamos todos sentindo sua falta. Mas tenho a absoluta certeza que SIX não acabou... SIX estará eternamente aqui com a gente... porque SIX sempre e em tudo foi um artista... um verdadeiro número... e os números não têm fim... os números... além de infinitos, também são infindáveis.