A Crónica de uma Depressão Anunciada
(por Domingos Oliveira Medeiros)
Estava muito triste. Cansado. Na verdade, decepcionado. Revoltado, eu diria. Com tudo. Os pensamentos giravam em torno de minha mente. Apareciam sob a forma de notícias de jornais. Falavam de violência, corrupção, paraísos fiscais, lavagem de dinheiro, desvios de verbas, endividamento público, mentiras, boatos, especulações, riscos, falta de perspectivas, iminência de guerras, mortes e destruições. Estávamos num labirinto, sem conhecer a saída.
Quando tudo caminhava para o abismo da depressão, eis que veio a chuva. Grossa e barulhenta. E a vida lá fora chamou-me a atenção. Apesar de tudo, estava vivo. E a vida é uma bênção. Bênção porque temos chances. Chances de provocar mudanças. Ou, quando menos, influenciá-las. Para que as coisas melhorem. Para que as coisas aconteçam. Usando de todas as nossas forças e armas de que dispomos. E sempre com firmeza de propósitos. Pensando no bem comum.
Neste momento de reflexão, um pingo de chuva, mais ousado, atravessou a janela e veio afixar-se no canto de minha boca, provocando um leve sorriso. Que me fez bem. Que me fez repensar.
Esta depressão que espere. Vou dar as boas vindas a todos os pingos da chuva. Vou olhar para a vida lá fora. Para as rosas que nascerão quando esta chuva acabar. Enfeitando o verde que irá retomar à s esperanças perdidas.
Apesar da alta da inflação. Do Fundo Monetário Internacional. Do arrocho nas contas públicas. Da necessidade do cumprimento de metas de superávit fiscal. Afinal, faço parte da natureza. Não sou economista. E nem estou só. Somos muitos a pensar deste modo. Não temos medo de depressões. Inclusive, as de ordem económica. Haveremos de superá-las. Graças a Deus.