Blim...Blão...Blim...Blão...Blim...Blão...Bateu o sino na matriz. Papai e mamãe rezaram... E o Natal foi feliz!
A "Missa do Galo" foi solenemente celebrada pelos representantes de Deus, enquanto os que tinham fé contavam nos dedos as contas de um cordão com bolinhas. E os que tinham pouca ou nenhuma crença, também ali permaneceram... Buscando, quem sabe, um namoro... Ou mostrando a roupa nova comprada com o 13º. Mas, também foram abençoados.
A música antiga embalou o sono dos que ainda acreditavam no velhinho barrigudo de roupas vermelhas que desce pelas chaminés, mesmo que não existam os telhados. E os que não acreditavam aumentavam o volume do potente som que saia dos porta-malas dos carros, onde uma letra confusa falava qualquer coisa sobre "uma eguinha pocotó".
Os Panettones, as rabanadas, as farofas e os perus foram devorados pelos insensíveis visitantes que deixaram vazios os pratos que ficaram amontoados em cima da pia. Que os lave o dono da casa! Enquanto isso, os que encharcaram-se com o litro de aguardente, permaneciam caídos pelas calçadas, quase que desmaiados, despreocupados com a fome que lhes corroem pouco a pouco o magro estómago...
Os presentes foram gentilmente recebidos, acompanhados por aquele sorriso amarelo, tentando esconder que sua única curiosidade é saber o prazo de validade para troca e onde foi comprado aquele objeto de profundo mal gosto. E os que presenteavam estendiam seus embrulhos, lamentando ter gasto em uma liquidação o que poderiam ter comprado numa loja de R$ 1,99.
E o Espírito Santo desceu sobre a Terra, tentando iluminar os corações dos homens sem alma. E Deus, lá no céu, comemorava o aniversário de quem considera seu único filho, sorrindo aliviado... Apesar de tudo, conseguira que os irmãos bastardos de Cristo sobrevivessem ao seu próprio ódio e, mais uma vez...Foi Natal!
