Dia desses passei uma experiência interessante, causada por um despertar no meio do sono, por volta das três horas da manha. O céu magnificamente estrelado, as ruas silentes, livre do trafego humano, transmitiam uma paz e uma liberdade que fez-me ter uma grande vontade de deixar a civilização decadente das metrópoles competitivas e sobretudo a desagradável companhia dos homens e de seus comércios destituídos de inteligência.
Minha alma estava livre.
Pensei escrever um poema, e depois de algum conflito interior melancólico, desisti. Para que? Também a mim o senso da utilidade já se faz quase um tirano. E´preciso, ao menos enquanto der e valer, sobreviver. Não interessa aos outros meus poemas, ao que parece. O mundo anda um tanto impermeável aos milagres das sutilezas.
O que ainda tenho de poético e humano deixa-me com um senso estranho de estrangeiro entre as pessoas; estarei também virando um predador?
O caso e´que o poema que não escrevi, o primeiro em minha vida que por rebeldia e desencanto reneguei, falaria sobre aquela revelação de ter encontrado num vislumbre iluminado o meu verdadeiro rosto, no meio da noite, entre as estrelas, e que a distancia que separava aquele ser livre que eu verdadeiramente era e aquele que vive aqui, aprisionado na terra baixa dos homens, era a mesma que separa um anjo de um asno.
Assim que a vida me der sorte, fugirei para a noite e seu silencio desértico , a fim de encontrar-me novamente, no espelho natural de paz e liberdade.