Hoje fico sabendo, através do jornal, que em 1998 os editores do The New York Times convocaram escritores, críticos e acadêmicos para elegerem os cem melhores livros escritos em língua inglesa neste século. Ulisses, publicado em 1922 pelo escritor irlandês James Joyce, ficou em primeiro lugar.
O citado jornal também me revela - isso eu não sabia - que James Joyce morreu em janeiro de 1941, cego e amargurado. Então, pus-me a conjeturar: ...isso quer dizer que o reconhecimento e a consagração de James Joyce e suas obras viram somente depois de meio século após sua morte!? E o que dizer de tantos escritores e escritoras, tais como: Camões, Álvares de Azevedo, Nelson Rodrigues e outros, cuja consagração, também, veio "post mortem"!?.
Os Lusíadas, por exemplo, só veio tornar-se o grande poema que é hoje após a morte de Camões. A história nos conta que ele viveu e morreu pobre e miseravelmente. Faleceu em total esquecimento que não se conhece a data em que acabou sua vida. No entanto, hoje, tem o título de "príncipe dos poetas", e seu Os Lusíadas é conhecido em todo o mundo - conhecido e consagrado como uma das mais belas poesias épicas de todos os tempos.
Outro exemplo, é a obra de Álvares de Azevedo, que foi toda publicada postumamente. Hoje ele é considerado o que melhor representa a poesia ultra-romàntica brasileira. Escreveu dramas, contos e poesias, como por exemplo: Lira dos vinte anos, Noite na taverna e Macário.
Nelson Rodrigues morreu pobre. Suas atividades de escritor nos jornais rendiam-lhe, apenas, o necessário à sobrevivência. Escrevia com pseudónimos, e assim tirava algum dinheiro. Hoje é considerado um dos melhores teatrólogos brasileiros. Sua peça Vestido de noiva, de 1945, revolucionou a linguagem teatral brasileira. Seus contos já foram narrados até em televisão. Escreveu obras-primas, tais como: Meu destino é pecar, Asfalto selvagem, elas gostam de apanhar, O óbvio ululante e a vida como ela é...
E o que dizer de músicos, pintores e escultores, que tiveram a mesma sorte? Perderíamos muito tempo narrando histórias de gênios da Música Clássica como Mozart, por exemplo, que morreu na indigência. Ou de nossa talentosa Chiquinha Gonzaga, que foi a vida inteira rejeitada pela sociedade da época por ter sido pianista e compositora, atividades incompatíveis para uma mulher naquele tempo. Poderíamos citar, também, que na pintura um quadro só vale fortuna depois da morte de seu pintor. Se não acredita, basta perguntar o preço de um quadro de um Picasso, de um Vangogh ou de um Dali, todos mortos.
Bem...o caro leitor já percebeu, por esses poucos exemplos, como o destino, à s vezes, é implacável com certos gênios. E o pensamento que me vem à mente neste momento, ao ler o jornal, é uma metáfora. Penso no destino como sendo uma pessoa cruel e vingativa, que, por inveja desses e de outros gênios, os maltrate e os aflige até o fim de suas vidas, impedindo-os de verem a consagração de suas obras. Mas, a vida, amásia dos gênios, de um modo ou de outro, revela ao mundo que esses gênios passaram por aqui, deixando-nos sua arte, que, afinal, é um tributo à ela, à própria vida.