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cronicas-->Camões -- 22/12/2002 - 12:27 (Renato Rossi) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Trajano estava insatisfeito aquele dia. Começou a reclamar de si mesmo. Estudou Literatura e Filosofia e trabalha como bancário. À noite, dá aulas, mas seus alunos não entendem sua paixão pelos clássicos, por mais que ele insista. Antes mesmo dos cursos, já trabalhava no banco e havia lido todos os clássicos, sabia-os de cor.

Ainda hoje declama Camões enquanto conta dinheiro no caixa. Ele sempre faz assim, declama enquanto passa as notas. Uma nota por sílaba. Sabe o valor em função do verso e sílaba onde para. Para não ficar chato, sempre retoma a declamação interior do ponto onde parou antes, e calcula a diferença, estabelecendo o valor do maço de notas que contara. Quem o observasse, veria seus olhos brilhando, e acharia que era pela visão do dinheiro.

Injustiça.

Ele praticamente interpreta a poesia, o que explica a alternància entre sorrisos e caretas. Nas passagens mais pungentes, lágrimas, às vezes gemidos. Tudo muito discreto, mas quem o observar com atenção pode praticamente acompanhar a história. Seu maior prazer é quando trazem grandes maços de notas para serem contadas. Nestes casos o trabalho não é feito na boca do caixa como se diz. A contagem é feita solitariamente na tesouraria e ele então pode declamar em voz alta e soltar-se mais na interpretação.

Quando surge alguma dúvida, reconta declamando A Odisséia, o que lhe permite tirar a dúvida. Alguns acham que ele reza enquanto conta dinheiro e dizem que ele é muito religioso. Na verdade, fica lá declamando para si mesmo, demonstrando que sua memória ainda é imbatível. Deleita-se com as histórias e a forma como são contadas.

Outro dia errou a conta por ter esquecido uma sílaba, motivo de sua tristeza. Enquanto se perguntava mentalmente se era de um ou de outro jeito, foi passando as notas mecanicamente, sem controlar a quantia. Nunca tinha errado, mas naquele dia perdera a conta. Com tanta preocupação, não há quem lembre dos Lusíadas como antigamente. No final perdeu quase mil reais, o que é muito seja para assalariados, seja para capitalista avaros.

Naquele dia, além dos mil reais perdidos, o incomodava mais ter errado a sílaba. Nunca lhe acontecera. O que terá sucedido? Terá que abandonar a técnica? Será que ainda sabe contar com números? Quantas dúvidas, questões a esclarecer.

Por via das dúvidas pelo menos por algum tempo deixará os Lusíadas de lado. Até se acalmar vai usar a obra de Monteiro Lobato. Ele lembra desde a infància. Começou outro dia. Achou fácil, exceto as passagens do Saci.

São muito cansativas e o pessoal estranha os pulos.



Escrito em 30.11.2002
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