Não existe um dia determinado para se passar da infància para a adolescência, desta para a mocidade, para a idade madura e finalmente para a velhice. Como já me encontro na maturidade, só me resta entrar na derradeira fase da vida ou seja, a velhice. O próprio nome, velhice, já espanta porque a expressão velho pode ser utilizada para tudo aquilo que é inservível e que não interessa para ninguém : pode acontecer com carros, computadores, televisões, móveis , roupas et caterva. Se e quando acontece com pessoas, podemos nos deparar com situações complexas, delicadas , embaraçosas.
Nós, mais idosos, que nos encontramos num mundo de jovens (a população dos idosos no Brasil corresponderia a cerca de 10 ou 15%), naturalmente os desejamos acompanhar em quase tudo, Ã s vezes até aceitando suas vestimentas e imitando suas atitudes, espiritualmente nos amparando nos ditados " o coração não envelhece", "a idade correta deve ser a que se aparenta ter, não a que se realmente têm" etc. Mas, os primeiros sinais de que a velhice vem chegando pode ocorrer quando num coletivo (ónibus, metró ) pessoas mais jovens lhe oferecem ou cedem o próprio lugar. Naquele momento, acredito, o beneficiado pela gentileza pensa ter sido agredido, pois é considerada uma "pessoa velha", quase que oficialmente , coisa que jamais passaria pela sua cabeça.
Meditando sobre o ocorrido, aquela pessoa então contabiliza os seus anos e verifica ter mais de sessenta, número considerado bem elevado quando ele próprio era moço. Depois, não gosta de se olhar no espelho para ver os cabelos brancos ou a careca , rugas etc., mas analisa as próprias manias, os seus "sistemas" de vida e vai concluindo que, se estiver aposentado, é realmente considerado `carta fora do baralho". Resta saber se é velho mesmo. A essa altura preferiria fugir do assunto, mas como já se meteu nessa enrascada vai continuar dizendo para si mesmo que é velho, mas não está velho. Não está velho (e aí retoma e relembra outros provérbios), " porque tem a disposição de um moço" ( muito entusiasmo, podendo ser até `conselheiro" de algum time de futebol amador), estaria disposto a fazer um montão de coisas, mas se dá por satisfeito se puder atender ao cardiologista que lhe aconselha andar com frequência quilómetros e quilómetros... Todavia, ao mesmo tempo, cai na realidade porque não é convidado pela moçada para participar dos seus encontros e reuniões pois eles não entendem mais a linguagem dos idosos, nem as suas maneiras e talvez queiram poupá-lo pela idade., que eles - jovens- , consideram avançada.
De qualquer forma, porém, como a velhice não deve ter chegado, porque ainda não falam à s claras sobre as nossas manias , carências etc., temos de encarar a realidade com sombranceria. E se chegou, mesmo assim temos de nos sentir felizes, pois não somos qualquer insignificància. Filhos de Deus onipotente, redimidos por Cristo temos lampejos de grandiosidade e participaremos ao final (quando nossos olhos não mais se abrirem), das maravilhas das coisas eternas e infinitas que estão reservadas para os justos.