Usina de Letras
Usina de Letras
41 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62409 )

Cartas ( 21335)

Contos (13272)

Cordel (10452)

Cronicas (22546)

Discursos (3240)

Ensaios - (10449)

Erótico (13578)

Frases (50802)

Humor (20074)

Infantil (5487)

Infanto Juvenil (4810)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1377)

Poesias (140871)

Redação (3319)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2437)

Textos Jurídicos (1962)

Textos Religiosos/Sermões (6235)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
cronicas-->MENSAGEM DO FUNDO DO LAGO -- 10/11/2002 - 17:00 (SILVANO ALVES DA SILVA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
MENSAGEM DO FUNDO DO LAGO

A colher parou no meio do caminho. Não chegou ao seu destino. Uns olhos grandes que brilhavam como a superfície de um lago calmo, estampou-se na tela confusa da mente.
Veio com tanta força que o pobre cérebro com seus dez por cento de capacidade não póde dar mais nem uma ordem ao corpo imbecil. A mão suspensa, boca aberta, cara catatónica e espinha curvada como se a imagem que se estampava na mente fosse um peso enorme que fazia a cabeça pender para frente.
Agora não era só a imagem: o som daquela voz frágil e tremula martelava as paredes do crànio com violência. Iam de um lado para outro, se multiplicava em várias vozes que diziam a mesma coisa em um coro sentencioso.
Levantar e ir até a janela não foi a solução. Respirar o ar da rua profundamente,ouvir o barulho do vento nas árvores, sentir o sol queimar a pele nada fazia aquele filme dantesco se apagar da tela branca do cérebro. Onde estava o botão salvador que apagava aquela projeção de mau gosto?
Maldita mente humana. Sim maldita. Maldita por seu desassossego, por não saber direito com quem quer ficar: com o corpo ou com o espírito. Ora hedonista, ora cristã. Ora Marx, ora Darwin. Ora ama, ora sente tesão incontrolável. Maldita mente que oferece do fruto proibido e depois tece tangas de folha de figueira. Enquanto não se decide tortura o ego dos fracos.
Os olhos brilhantes somem da tela. Lentamente um novo cenário se compõe. Homens que gritam o preço de bananas, melancias, abóboras, pepinos, laranjas, feijão, peixes, roupas, cacarecos, panelas e tudo que tem em feira. Cheiro de frutas maduras, pastel frito, verduras estragadas, perfume barato de mulher. Cores, cheiros e sons constroem o ambiente do filme que a mente volta exibir.
Em meio aquela confusão de vozes uma se eleva acima de todas. Não vende nada. Anuncia desesperado um assalto:
"Acudam!Acudam! Pega esse moleque do diabo... Não deixa escapar. É ladrão!"
Pelo meio da feira numa carreira desembestada ia um negrito magrinho. Embaixo do braço uma penca de bananas maduras. Amarelinhas como o sol, daquelas graúdas que só de olhar dão água na boca. Lá vinha o negrito e as bananas no meio do povo acompanhados do dono das bananas. O povo louco tentava segurar o moleque, mas o danado parecia uma pedra de sabão se escapulindo do tumulto de mão e braços que tentavam detê-lo.
Meu Deus como a glória tem um poder desesperador sobre os homens. Todos queriam ser o herói da feira e deter aquela ameaça da sociedade. Todos queriam, no horário do almoço de domingo, poder contar como bravamente agarrara aquele ladrãozinho pelo pescoço e, diante da multidão extasiada, devolvera para o honrado comerciante a sua penca de bananas.
Mais uma vez digo: mente,maldita mente indecisa.
Agora que estava ali, diante de todos, diante da macarronada, diante do frango assado, da coca-cola. Agora que desfrutaria dos gozos do ato heróico... aquela imagem terrível,aqueles olhos negros, profundos como lago e o som daquela voz inquiridora fazem a glória esvair-se como a neblina rasgada pelo sol.
Nada mais resta da glória pensada no momento em que aquele ser frágil e pequeno é preso pelos braços fortes e burgueses, nada mais resta do sentimento de justiça que se teve quando o produto do furto foi passado as mãos de seu proprietário. Agora só o que resta é a imagem da superfície do lago profundo e o som que vinha da sua entranha:
" O senhor nunca passou fome?"
(Silvano Alves da Silva)
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui