ALEGRIA DE VIVER
Roberto Corrêa
Antes da globalização e muito antes do neoliberalismo (de que muitos falam e não sabem explicar realmente o que seja), parece que a alegria estava mais presente na vida do homem. Talvez porque o progresso desordenado, inclusive na esfera da criminalidade ainda não tivesse alcançado o auge. Achei interessante até a manifestação de um leitor do "estadão" sugerindo que o "sindicato dos bandidos" faça `cursos´ de aperfeiçoamento para assaltantes, pois delegado de polícia afirmara que a vítima faleceu face a "inexperiência" do criminoso no manejo da arma... O avanço tecnológico nos traz muitas alegrias , mas é evidente também que aumentaram as preocupações e as tristezas.
Faço essa afirmação porque a ambição do homem é desmedida e assim, com o constante aumento das novidades, a inquietação cresce, mesmo porque a grande maioria não tem, sequer, condições de se alimentar de maneira correta. Paradoxalmente, porém - como se sabe -, a televisão se popularizou, a ponto de quase todas as casas possuírem o seu aparelho, inclusive a cores. Mas, as novidades são constantes , mexem com o desejo de todos possuírem todas as coisas: fax, telefones sem fio e celulares (de todos os tamanhos e modelos), computadores, condicionadores de ar, freezers, videocassetes et caterva... Não se falando, é claro, do automóvel - o maior sonho do homem materializado - de inominadas marcas, cores e tamanho , ar-condicionado, direção hidráulica, càmbio automático, air-bag, etc., etc.
Como só o dinheiro é capaz de comprar todos esses bens , segue-se que todos correm atrás dele, com discrição ou atabalhoadamente. Acontece que os honestos, com o padrão de vida limitado pelos ganhos, podem querer "embarcar" na onda do consumismo . Assim, passam a procurar mais serviços e meios para aumentar o próprio poder aquisitivo, inobstante tais esforços tragam mais sacrifícios (talvez do próprio lazer e de momentos de espiritualidade). Os mais pobres, coitados, devem suportar mais essa frustração acrescida do desgosto de se auto reconhecerem como pobres mesmo. O perigo de tudo está no descaminho, ou seja, no desespero em que pessoas, de espírito fraco, passem para o mundo do crime para satisfazerem aquele consumismo novidadeiro e convidativo . É mais ou menos o que estamos vendo pela mídia, ávida e escandalosa em divulgar a robalheira em todos os sentidos e em todos os cantos
Lógico, pois, se concluir que a alegria de viver é um pontinho distante, longínquo no horizonte...Não haverá oportunidade de se falar da lua ou de estrelas (Ora direis, ouvir estrelas...)... Tampouco daquela lua cheia da sexta-feira santa, do silêncio poético dessa noite sagrada, com uma brisa suave própria do outono... Naqueles outros tempos (1950-1980), o consumismo ainda era restrito, a correria bem menor e a idade mais juvenil. Tudo isso, talvez, motivasse idealismo, compreensão e nos aproximasse das reflexões profundas que chegam até Deus. Sem dúvida alguma havia mais tranquilidade, as ambições não eram tão exageradas, a movimentação menor, a felicidade maior.
Havia muito mais alegria. Mas, não percamos a esperança. Há possibilidade de abandonarmos arraigados vícios ( exemplo :deixar de assistir noticiários televisivos - geralmente acabrunhantes - no almoço ou no jantar) e nos habituarmos com pregações e programas salutares, agora mais fáceis de se encontrarem nas tevês católicas, acessíveis com as antenas parabólicas e as transmissões a cabo. O espírito se nutrindo de saudáveis pensamentos, a alegria , inelutavelmente, ressurgirá com maior espontaneidade e facilidade.