Fui obrigado a permanecer em casa mais do que o normal. Fiquei intoxicado com a comunicação, principalmente com as das tevês e as dos jornais. Caminhões de futilidades, de crimes e desgraças. O noticiário económico é barbarizante. Deve provocar , com o tempo, irreversível cirrose: é o problema do desemprego em termos percentuais, o PIB que desce ou sobe , nas diversas situações aplicáveis, a repetitiva e cansativa notícia da abertura ou fechamento dos empréstimos para a casa própria, do controle dos planos de saúde, etc. O idolatrado futebol, um dos jogos mais simples do mundo, é esmiuçado em detalhes fúteis,cheios de blá-blá-blá sobre a redodeza da bola e o chute perfeito, etc.
A avassaladora comunicação está aí, como lavas de um vulcão, cuja erupção parece interminável. Os trabalhadores dessas áreas devem se encontrar exultantes porque não falta mercado de trabalho. É uma carreira das mais promissoras, no estágio atual das comunicações. Nós outros porém, que somos o receptáculo dessas lavas funestas, precisamos nos precaver, sob pena de - triturados e queimados-, nos tornarmos despersonalizados. Acabo de fechar a porta do meu escritório tentando impedir a penetração dos infernais sons de uma tevê. Descubro a tranquilidade, a paz. Lembro-me da expressão de Sêneca, citada na Imitação de Cristo traduzida pelo Padre Leonel Franca: " quantas vezes estive entre homens, volvi menos homem." O mundo exterior, alucinante e movimentado, se contrasta com o mundo interior do silêncio, da calma. Estaria eu errado, envelhecido, fora do tempo e da vida ? Não acredito, porque os atordoantes comunicadores, a qualquer momento, poderão despejar dentro das nossas casas o lixo atómico dos assassinatos, assaltos, roubos e catástrofes, como se fossem coisas normais da vida.
Será difícil descobrir onde está a paz e que meios precisarão ser empregados para se conseguir chegar até ela ? Individualmente , com a graça de Deus, chegaremos lá. E a sociedade, quando deixará de ser bitolada pelo pueril princípio do "Maria vai com as outras", para realmente promover o bem comum de todos ?