TERRA TRISTE ( I I )
Roberto Corrêa
Após diversos meses, a famosa novela Terra Nostra em andamento pela mais poderosa emissora de tevê do país, chega ao fim . Constatei aquilo que esperava: serviu para demonstrar à queles que podem julgar corretamente as diversas situações humanas que, mais uma vez , " o crime não compensa". A palavra crime pode ser substituída por pecado .E deste, ficou bem explícito na novela o adultério. Como que começando a pagar desde logo esse pecado, Juliana e Mateo, os principais personagens, sofreram o tempo todo: ela trabalhando para sustentar a família e ele procurando emprego, carregando o apodo de anarquista. Ambos podiam ter sido bem felizes se honrassem o compromisso matrimonial, pois desposaram cónjuges ricos e bem situados. Neste momento em que escrevo ( falta cerca de uma semana para a novela terminar), acredito que o autor com lampejos de bom senso, oportunismo e desejando agradar o grande público, promoverá a reconciliação dos casais legítimos (Juliana/Marco António, Rosana/Mateo), ensejando ainda um final feliz.
Para a outra dupla de sofredores, Rosana e Marco Antonio - infelizes rejeitados no amor -, o castigo parece que foi bem menor, inobstante a ausência dos filhos legítimos, sempre representasse uma tristeza ou uma dor. Do outro lado, Francesco e Paola parecem ter encontrado o sétimo céu, o velhusco Francesco invejado por milhões de telespectadores que não concebem ser possível amor total de belíssima jovem por um sexagenário... A malvada Janete também "afinou" se apaixonando por mancebo que se passou por cocheiro e poderia ter a idade do próprio filho. Essa dupla de casais adúlteros, como a novela precisa acabar, não havendo tempo material para se criarem outras situações, terão de ser , ilegitimamente, felizes para sempre... ( Aliás, será o destino de Juliana/Mateo, Marco António/Rosana caso o autor insista em priorizar o "amor paixão" e o "amor consolação"). Gumercindo e Maria do Socorro, Augusto e Angélica mantiveram os respectivos casamentos dentro da linha da normalidade, salvos os acontecimentos passados, esquecidos e perdoados. Gumercindo , todavia, extrapolou , já no final , com o seu autoritarismo exagerado, considerando Rosana como morta ou como não sendo mais filha dele. Os momentos finais mais sugestivos e interessantes da novela se prendem à quadros novos, ou seja, ao nobre e delicado namoro dos jovens Florinda e Bruno, e da revelação para José Alceu, de ser filho bastardo de Gumercindo.
Não se pode negar o estupendo trabalho da maioria dos diversos atores e também que , . em momentos isolados, foram - alto e bom som -, condenadas situações imorais (Anacleto recriminando a semvergonhice de Gumercindo pelo "uso" das escravas), elogiadas atitudes nobres, como a de Marco Antonio para com Juliana e de que travaram-se inúmeros diálogos justificando os bons princípios e as boas ações. A novela com fatos e estórias ocorridas há cem anos , que sempre considerei tristes, relata , na verdade e por derradeiro, a situação atual em que se encontra o país com as suas crises de autoridade, desemprego, insatisfação e imoralidades subjacentes.
Conclusão: para navegadores experientes, treinados e acostumados a navegar por abrolhos e águas poluídas, "tudo bem". Para jovens navegadores, todavia, há o risco deles considerarem normais e sem inconvenientes todo aquele perigo disfarçadamente legal e agradável, emoldurados pela imagem pictórica e pelo envolvente som da absorvente novela.
