Há uma semana ela chora. Ela dorme, se alimenta, estuda, trabalha, sai, conversa, mas também chora. Chora de saudade e sente na pele a ausência de alguém. Sente nas lágrimas a presença de alguém que está distante. E sente. E lembra. E chora.
Por mais que não admita, a menina guarda em seu coração uma dor, que nenhum remédio pode curar, só o tempo. Porque a dor da saudade não te cura. A dor da saudade anestesia o coração, e vai chegar uma hora que a menina não sentira mais dor, só saudade, e será como se padecesse no silêncio de suas lágrimas, que insistirão em correr pelo seu rosto, lavando sua alma, benzendo sua fé.
Fé de que em algumas semanas a saudade será recompensada. A saudade não passará de lembranças de um tempo em que as lágrimas foram companheiras de uma menina frágil, como vidro, porém valente, como uma leoa.
E talvez a menina perceba que a saudade que sentia era de si mesma, de quando ela procurava-se na brisa da manhã, na vidraça transparente de sua janela, na multidão disforme e na mistura das formas. Procurava alguém que ela talvez não quisesse encontrar, ou que já tivesse encontrado e ainda não havia percebido.
E as lágrimas, gotas de saudade, que despencavam velozmente em busca de um rio onde pudessem se unir a outras águas, essas mesmas lágrimas que tentavam aliviar a dor afagavam, ao mesmo tempo, o corpo aveludado da menina que chorava, que chora, e que sempre irá chorar, porque saudade é um sentimento, uma doença ou algo inexplicável que não tem cura, não tem solução e não tem fim.
Assim como as lágrimas, que surgem não se sabe de onde, e vão para não se sabe onde. Lágrimas que borram a maquiagem da menina, mas limpam os olhos e abrem a alma para novos horizontes. Ou talvez disfarcem as rugas precoces de preocupação, as marcas refletidas no espelho envelhecido do tempo e por fim ainda consigam arrancar da face um singelo sorriso de alívio, de quando a dor passa.
As palavras que não diz, a poesia muda que escreve, para si, para ninguém, e a rima que procura bem longe, em outra casa, em outra cidade, em outro país, são verdadeiros reflexos da saudade que sente de um tempo que já não existe. E quando deixar de sentir saudade desse tempo, passará a sentir saudade do tempo de agora. E a menina vai chorar gotas de saudade até aliviar a dor, ou anestesiar a alma e esquecer que o tempo é o melhor remédio para um sentimento sem cura.
No interior de cada lágrima, cada gota de saudade, na intimidade do pensamento da menina que chora, ela sabe que não há dor que consiga derrubá-la, pois seus sonhos são mais fortes que suas ilusões, e a música que toca em seu coração embala os dias, as noites e as lágrimas, gotas de saudade.