Um belo dia um gigante resolve experimentar a sua força. Pela frente uma inóspita raia do tamanho do mundo a ser percorrida. Confiando na própria força começa a correr, encontrando, ao longo do trajeto, alguns curiosos. Cumprimenta uns, pisoteia outros.
Com vigor físico e espírito conquistador, o corredor faz da fraqueza alheia uma arma indelével de suas vitórias. Suas conquistas são marcadas pela ruína da dignidade humana. Aniquila o bom senso e atropela a paz.
Displicente, não conta com o inesperado...
Por maior que seja o preparo físico, qualquer atleta corre o risco da indesejável contusão. Para os corredores um passo em falso pode ser fatal. Mesmo assim Tio Sam segue em frente.
Prepotente, é obrigado a se curvar diante da verdade, admitindo que a saúde e o preparo físico já não são os mesmos de um jovem Golias.
Vetusta, a sua corrida imperialista já não agrada a platéia. Com a assistência em queda, o outrora imbatível Tio Sam é obrigado a reavaliar o seu desempenho.
Por serem muitas, as evidências levam o corredor a repensar o próprio plano de carreira. Enfim, algo está errado. Não seria o técnico, pensou Tio Sam!
Não, a deficiência está no conceito da corrida. Está na alma do corredor, no objetivo da vitória e na improbidade dos dividendos.
Ao desdenhar o adversário cometeu o mais perigoso ato falho de sua história. Até mesmo Jesus Cristo padeceu por agir assim. É verdade que por um milagre de Deus, e os árabes diriam que foi por obra de Alah, Jesus venceu no foto charter.
Belicamente turbinado, Tio Sam humilhou os adversários e os esqueceu. Como um enfurecido xerife que adentra ao saloon, ditou normas pelas raias do mundo.
Na corrida com barreiras criou obstáculos que os adversários não puderam transpó-los. Mas com o tempo tudo mudou.
Os adversários evoluíram. As raias mudaram. A torcida melhorou. Unida, passa a exigir que a vitória mude de cor.
Que deixe o vermelho-sangue para adotar o branco-paz. Que abandone o cinza-fome para se enveredar pelo verde-esperança.
Senhor da verdade, o velho Tio Sam não dá ouvidos ao conclamar da torcida. Segue em frente como se fora um impávido colosso. Desrespeita a todos.
Cansado de perder por obra da arrogància alheia, o adversário decide triunfar na casa do inimigo. Obstinado, parte em direção à gloriosa estante do Tio Sam para roubar-lhe um troféu.
Usa a insanidade da chacina como escada para alcançar o seu objetivo. Ao sacrificar vidas furta a dignidade e o orgulho de um povo.
Tio Sam perde um dos mais imponentes troféus. As torres gêmeas!
Assustado com o crescimento descontrolado do adversário, o sempre vencedor Tio Sam decide mudar de tática. Para não perder a majestade, começa a planejar o contra-ataque. Exacerba a fragilidade da força e desfila a voracidade conquistadora.
Mantendo o técnico, o velho e truculento corredor volta a treinar. Dopado com pílulas da vingança, Tio Sam retoma as corridas em uma nova raia. Faz da virtualidade de Wall Street o cenário de sua recuperação. O som da especulação é o estímulo do esforço. Exercita-se nas barras do terrorismo económico.
Confunde a gritaria dos pregões com as ovações dos estádios. No devaneio da corrida sonha ser a minguante torcida. Sob os olhos atentos dos inimigos distrai-se com o bater do martelo. Pisa em falso, escorrega e vai ao chão. Vem a contusão.
Socorrido imediatamente, é levado para exames e análises.
Indócil, a torcida começa a contabilizar a possibilidade da farsa. Diante da perplexidade da platéia vem o resultado revelador.
Tio Sam encontra-se em estado grave. As funções vitais estão sendo mantidas por obsoletos aparelhos financeiros. A dignidade foi acometida por empréstimos escusos e juros subsidiados. A probidade sofreu um sério ataque de desfaçatez e está totalmente comprometida pela voracidade especulativa. O todo está tomado pelo vírus da ganància.
Caso resista, o outrora voraz corredor será obrigado a abandonar a carreira.
Em meio a uma multidão atónita, um leigo e entorpecido seguidor se manifesta.
Mas qual o motivo da queda do Golias?
Ruptura do tendão de Aquiles, mas se você quiser pode chamar de fraude na Economia americana!