Camisas amarelas começam a escassear no cenário brasileiro. Raras são as bandeiras que ainda restam penduradas em janelas e terraços. Amarradas à s antenas dos carros, as esgarçadas fitas verde-amarelas irão sobreviver até a próxima ida ao lava rápido. O verde-amarelo começa a ser sucesso em outras passarelas, que não a da alma do brasileiro.
Muito distante de uma profecia do apocalipse, o Brasil voltou à sua velha e enfadonha mesmice. Retomou os trilhos do modorrento cotidiano, que num hiato do tempo tomou um desvio da História. A conquista do penta.
Espremidos no funil da opinião pública, diversos jogadores adotaram a teoria do socialmente correto, doando os prêmios pela conquista do pentacampeonato a causas sociais. Diante do auto propagandismo demagogo, o povo se envaidece com os seus heróis de aluguel. Poucos sabem que a pseudo-solidariedade será um benéfico escudo tributário que vai aliviar, e muito, a carga de impostos de cada jogador.
Entorpecidos pelo esquecimento, aceitam a adaptação da famosa teoria política do rouba mas faz. Enfim, o fulano de tal é arrogante mas ajuda!
Capitalizar sobre a necessidade alheia, expondo à humilhação pública o alvo principal da incompetência governamental, é no mínimo psicopatia.
Panteístas convictos, os caritativos jogadores disputam, entre si, a vaga para candidato a Deus. Bravateiam aos quatro cantos as suas doações, quando o cenário da caridade deveria ser silencioso. Solidariedade como instrumento de marketing é uma infinda falta de responsabilidade.
Como saltimbancos, roubam a atenção dos espectadores ao comparecerem a todos os programas de televisão.
Neste lamaçal de insanidade, a dignidade dos necessitados é achincalhada enquanto muitos se calam. Calam-se por timidez. Calam-se por covardia. Calam-se por falta de patriotismo.
A paixão doentia pelo verde-amarelo vai perdendo a força. Empalidece o orgulho auriverde, esmorece a matiz cidadã.
O fanatismo colorido passa a ser retórica de famosos estilistas internacionais, por conta de um eufemismo cheio de bossa chamado Brasil.
Será que já não é Brazil?
Dias depois da glória do penta, um grupo de descolados paulistanos tentou provar, de forma burra, que a correta ortografia é com Z. Contribuíram para esmaecer as viçosas cores do patriotismo.
Reunidos em torno de uma badalação noturna, os bem-nascidos e endinheirados da paulicéia conseguiram mostrar a policromia da solidariedade brasileira. Quiçá não seja brazileira!
Um grande evento de socialites arrecadou fundos para fins sociais. O destino do dinheiro?
As famílias dos bombeiros americanos mortos no World Trade Center.
Mas como ficam os milhões de brasileiros famintos e miseráveis?
Que ardam na miséria e afoguem- se na fome!
Mas e a ordem e o progresso?
Deixa pra lá, pois In God we trust!
E o Ouviram do Ipiranga?
Nem lembre, pois o negócio é New York, New York!
Mas e o Brasil? Bem, o Brasil...
O Brasil é aquele de sempre!
Bravatas, negociatas e mamatas.
Ah, esses nossos probos representantes de gravatas...