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cronicas-->UFANISMO PATRIÓTICO -- 19/07/2002 - 20:46 (Ucho Haddad) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
E o penta veio!
Indiscutivelmente o brasileiro tem o que comemorar. Na verdade, o brasileiro tem necessidade de comemorar para afastar as mazelas do cotidiano.
Ao gritar pentacampeão, um povo sofrido extravasa todo o sentimento sufocado pela continuidade do desmando.

Quiçá as preces de Fernando Henrique Cardoso não têm dado certo quanto à sucessão presidencial, pelo menos em relação à seleção brasileira acabaram vingando.
Como um éter que anestesia a consciência de um paciente, a vitória da seleção é um mágico estado de torpor que já faz com que o povo esqueça as agruras proporcionadas por um desgoverno. Este momento de euforia que o país vive é uma reedição da política do pão e circo, adotada pelos romanos para aplacar a ira dos súditos.


Conquista-se um eleitorado em situação calamitosa organizando festejos públicos e shows permanentemente, adaptando-se o pão e circo dos romanos à modalidade cachaça e circo.
Mauro Chaves


E a cachaça do brasileiro, o futebol, acabou se transformando em circo. Um espetáculo de milionários, dirigido por corruptos para saciar uma massa miserável.

Mesmo estando salva em todos os sentidos, o povo continua cantando, desde 1970, o mesmo refrão.

Salve a seleção!

Mas será que a seleção precisa ser salva? Ou será o povo, que a entoa em marchinhas, que precisa de uma urgente e eterna salvação?

Hoje, o Brasil comemora o pentacampeonato. Amanhã, outros tantos campeonatos continuarão a ser comemorados - se é que comemorar é a palavra mais adequada - no silêncio dos enxovalhados corredores da política. O campeonato da miséria, que causa vergonha. O campeonato da corrupção, que causa espanto. O campeonato das desfaçatezes, que provoca enjóo. Enfim, campeonatos onde o Brasil é campeão de tudo, inclusive de futebol.

A exacerbação do patriotismo brasileiro irá durar mais setenta e duas horas, e nada mais do que isto. Depois, tudo volta ao seu normal!
O povo vai voltar a dar os famosos jeitinhos. Os políticos continuarão a legislar, quando trabalham, em causa própria. Mais e mais impostos surgirão do nada, enquanto outros serão sonegados. Já veio o reajuste do seguro apagão, e está por vir o aumento da gasolina. Esta festa animada e cheia de ginga não é o fiel retrato de uma dura realidade. É sim uma grande encenação, que jamais representará a crueldade da coxia.

O patriotismo do povo volta a dormir, despertando, quem sabe, dentro de quatro anos. A paixão pela pátria se esvai no enrolar da bandeira, se cala na dispersão do gritar.

Pentacampeão! Pentacampeão

Mas este jeito brasileiro de ser patriota, mesmo que de vez em quando, acaba contagiando, mesmo que por pouco tempo.
Assim foi na época da convocação. Todos diziam querer jogar por amor à camisa. Dias depois, os mesmos jogadores recusavam um prêmio individual de cento e cinquenta mil dólares (dois milhões, cento e quinze mil salários mínimos), sob a alegação de ser pouco, muito pouco. Lutaram e conseguiram. Vão receber duzentos e cinquenta mil dólares cada, ou seja, três milhões quinhentos e vinte e cinco mil salários mínimos.
Mas e o amor à camisa? E a tal da pátria de chuteiras? Convocação garantida, tudo ficou para trás, e a tónica passou a ser a vaidade mercenária e egoísta. Com tantos mínimos, pode-se dizer que a seleção é o máximo. Será?

A camisa 9, ora eternizada pelo jogador Ronaldo Nazário, o Fenómeno, se transforma na fantasia da vitória. Comprada a duras penas na barraca de um cameló que, como todo brasileiro ruim de bola, dribla as dificuldades para sobreviver neste Brasil de meu Deus, a camisa 9 vai ser a alegoria da condução.
Amanhã, o Brasil acorda fantasiado de Fenómeno, como uma manifestação simultànea de prazer e contestação. Prazer pela vitória, e contestação pelas derrotas da dignidade humana.

A camisa 9 não vai conseguir mudar o cenário, mas apenas anestesiar o sofrimento de um povo ao colorir um país com orgulho. Vai amanhecer pendurada no ónibus, espremida no trem depois de amarelar o nosso coração.

A camisa 9 irá, dentro de alguns dias, à terra do Tio Sam - começam as férias de julho -como passageira de um turista acidental, passando pela terra do Mickey e pela Grande Maçã. Na volta será relegada no fundo da mala, dando lugar a uma t-shirt com a inscrição I love NY, que irá reverenciar, mais uma vez, o nocivo e bem estruturado projeto do imperialismo americano.

Mas e o Brasil, quem é que ama?
Calma Brasil! Quem sabe daqui a quatro anos...

No meio de tanta comemoração e misturado ao espocar dos fogos de artifício e a intermitência das buzinas, findo esta crónica com uma frase do saudoso e genial Carlito Maia, um dos maiores exemplos de brasilidade.

Acordem e progresso!
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