Tirei dinheiro de onde não devia: o maldito do caixa 24h. Já sei de cor o discurso que mamãe vai fazer ao telefone, e já sei o meu também! Mas tive que fazer... Agora sou uma trabalhadora e ir para casa almoçar é perda de tempo e dinheiro! Por isso agora almoço só. Diz mamãe que: "antes só do de mal acompanhada!" Minha mãe gosta dessas frases feitas que todo mundo devia seguir mais ninguém consegue!
Voltando ao meu almoço só, além dele, tenho que esperar dar a hora para eu poder entrar na minha cabine e importunar pessoas pedindo uma simples doação. Que de fala fácil passa a ser missão mais que impossível!
Essa espera é um tipo de apatia retardada. Não consigo ler nada, estudar menos ainda, a única coisa que ainda consigo é observa. E tento olhar de onde eu estou sentada até onde as pessoas dobram as curvas do shopping, sentam para comer, descem as escadas, vão ao banheiro etc. E como tem gente! Algumas comendo sozinhas, como eu, outras com amigos da faculdade, casais apaixonados, senhoras distintas comendo esfirras com a mão, pessoas estudando, trabalhando, limpando, correndo, passeando, pensando, comprando... Mas nenhuma com o tempo que tenho de observa-las, sem julgá-las e compreender o porquê de estar a tanto tempo escrevendo sobre elas.
Tenho certeza de que nunca me faltará escrita ao escrever sobre "gente".São tão distintas tão misteriosas e tão curiosas como eu! Se pudesse pediria a cada uma delas que me dissesse uma frase, ou talvez um verso e até mesmo uma palavra. Tento, inutilmente exercer o papel de uma vidente. Observo os movimentos, os olhares, as expressões... E etiqueto cada uma delas, para que se quem sabe um dia, eu passe por elas novamente e me reconheça. Porque cada "gente" que passa deixa um resquício de si e leva um de mim. Somos mesmo, migalhas de um imenso bolo azul!
