Roberto Corrêa
Dizem que os velhos têm a mania de falar sozinhos. Então, quando por acaso percebemos que estamos falando sozinhos, concluimos que a velhice chegou. Do peso dos anos não podemos fugir, mas é evidente que muitas vezes falamos sozinhos sem nos encontrarmos definitivamente velhos. Trata-se, a maioria das vezes, de vontade de conversar. Mas , como nascemos e morremos sozinhos , não nos aborrecemos irremediavelmente, se nem sempre encontramos alguém para conversar. A conversa entre dois interlocutores, chama-se diálogo. Apezar do diálogo ser bastante elogiado e recomendado, acredito que seja mais uma das panacéias modernas. Procura encobrir, por exemplo, as radicais diferenças entre árabes e judeus, católicos e protestantes (na Irlanda), partidos diversos e opostos em várias partes do mundo, porém no fundo mesmo, o tal de diálogo acaba não resolvendo nada.
E o diálogo, a medida que os anos passam , se torna mais complicado ou penoso. Os jovens não querem dialogar com os mais velhos e vice-versa, pois as diferenças culturais , geralmente, são imensas. Aquele slogan " é proibido proibir", de uma das revoluções intelectuais do século passado, parece que amplificou o espirito anárquico do revoltado homem contemporàneo e assim o entendimento , meta esperada para se conseguir maior união, vai indo por água abaixo. Hoje , infelizmente, constatamos com mágoa : na maioria dos sodalícios ou associações, temos grupelhos fechados , de dificíl acesso, tornando impossível o diálogo que, se por acaso existe, é totalmente infrutífero ou disfarçadamente hipócrita.
Com frequência, portanto, temos de falar sozinhos e de nos conformar com a solidão que nos envolve , apezar das agitações da vida. Interessante que o homem moderno não se volte para si mesmo e procure descobrir as razões ou encontrar soluções para tais dificuldades. Prefere ligar a sua televisão ou procurar em dispersivas revistas, temas que distraiam seu pensamento e fujam do problema. E assim tudo continua como antes. Continuamos, pois a falar sozinhos. Nem sempre podemos escrever aquilo que falamos, primeiro porque, muitas vezes, são palavras indecorosas e segundo porque a censura existe. Trata-se , ao menos,de policiamento interno, porque podemos, mas não devemos nos manifestar sobre qualquer assunto sem restrições perante quaisquer auditório ou leitor.
Para a grande maioria , o que falamos e escrevemos é obsoleto, anacrónico, retrógrado, impraticável . Em contrapartida, o que eles falam ,escrevem e fazem entendemos também seja completamente inócuo, ineficiente, falho, desprezível.Desta forma , mais uma vez, se constata que o endeusado diálogo não passa de ilusão e paliativo. Só mesmo a Providência Divina poderá interceder, aliviando a sobrecarga dos pobres mortais, tão orgulhosos, confusos e impotentes.