Usina de Letras
Usina de Letras
97 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62340 )

Cartas ( 21334)

Contos (13268)

Cordel (10451)

Cronicas (22543)

Discursos (3239)

Ensaios - (10410)

Erótico (13576)

Frases (50723)

Humor (20055)

Infantil (5475)

Infanto Juvenil (4794)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140849)

Redação (3314)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6222)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
cronicas-->Escultura de guardanapo -- 29/04/2002 - 15:22 (Marcel Agarie) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Autor: Marcel Agarie
Data: 29/04/02

Crónica: "Escultura de guardanapo"

Acho que não nasci para jantar em restaurantes chiques. Fico impressionado com as mordomias, as variedades e as produções. A última vez que estive em um, no dia 26 de abril, foi porque ganhei um par de convites para consumir até cem reais sem pagar, caso contrário, dificilmente estaria entre aquelas pessoas da alta sociedade, que esbanjam dinheiro tomando whiskys e vinhos caríssimos, enquanto tomo uma coca light ou um suco de laranja.

Logo na entrada, diversos carros importados (vectras, ómegas, picapes...) e eu com o meu fiat Uno 94, com o escapamento solto e todo sujo de poeira. O motor era a única coisa que estava limpo, pois havia passado por uma lavagem a poucos dias. Mas o que adiantava? Eu não estava em uma mecànica para olharem o motor do carro e verem que estava limpo. Deixa para lá! Vamos às mesas do restaurante. Garfos grandes, colheres pequenas, facas, saleiros e um guardanapo. Ou melhor, uma escultura de guardanapo. Já percebeu como eles fazem com os guardanapos nestes restaurantes chiques? Você olha de um lado, do outro e nem imagina como eles conseguem fazer aquilo com um guardanapo de pano. Parece com aqueles origàmes (será que escrevi certo?) japoneses, como dobraduras de papel.

A diferença é que nos restaurantes são feitos com guardanapos de pano. Neste caso, o meu estava em cima do meu prato e tinha o formato de uma cumbuca. Se utilizarmos a imaginação, talvez até pareça com a garganta do diabo de Foz do Iguaçu. Era bonito, dava dó de desmontá-lo. Coloquei-o do lado do prato, com todo o cuidado e fui me servir no balcão das saladas. Como sou de uma espécie totalmente carnívora, não como muita salada. Aquele "verde" (salve o corinthians!) em todos os sentidos me ofusca os olhos. Mas como o corpo necessita de um pouco de tudo, fiz um sacrifício e comi algumas folhas de alface com rodelas de tomate (coisa de pobre!). Segui mantendo o mesmo nível social e procurei também pelo tradicional arroz com feijão. Infelizmente não tinha, pois acho que deve ser prato de pobre.

Voltei para a mesa com a minha salada de pobre e sem o meu arroz com feijão. E lá estava, intacto e imóvel, o guardanapo que agora tomava novas formas. Desta vez pensei em um pinico, mas tentei logo desviar o pensamento para não ficar pensando besteiras. Não era um momento adequado para pensar que o guardanapo parecia um pinico. Mantive a concentração longe dele e fui comendo a salada enquanto vinham as carnes, sucos, refrigerantes e sobremesas servidas pelos garçons. Até que chegou o momento. Era a hora de destruir aquela obra de arte. Me sentia culpado por ter que desmontá-la apenas para limpar a minha boca. Dava vontade de limpar a boca com as mangas da camisa ou até mesmo com o próprio pano da mesa, mas muitas pessoas estavam em volta e seria uma enorme falta de educação.

Não teve jeito. A minha cumbuquinha, a minha garganta do diabo e o meu pinico haviam sidos destruídos. Para os que não tem essa imaginação fértil, destruíram o enfeite de mesa feita com um guardanapo de pano. E pior, foi destruído por mim. Depois de limpar a minha boca com aquela obra de arte, ainda tentei reconstruí-lo sem muito sucesso. Que triste fim para aquela bela escultura.

Da próxima vez pedirei um novo guardanapo para o garçom. A escultura de guardanapo original que estiver em cima do meu prato, ficará no canto da mesa até a hora de eu ir embora. Não quero me sentir culpado novamente por acabar com uma fonte de arte, de limpeza e de muita imaginação.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui