Autor: Marcel Agarie
Data: 22/04/02
Crónica: Dr. Nelório adverte: Ressaca? Tome Fanta com Veja
Durante a minha adolescência, feriado prolongado era motivo de viagem. A galera se reunia, arrumava uma casa na praia, arrecadava um dinheiro e muita, mas muita bebida. Cerveja, amarula, pinga 51, velho barreiro, batidas e outras bebidas, deixava todo mundo malucão. Como pinga e cerveja eram mais baratos, eles tinham em maior quantidade.
Foi em uma dessas viagens de feriado prolongado que tive uma experiência - que não me lembro direito, pois estava embriagado - diferente, tomei um "drink" para limpar todo o organismo e deixar tudo funcionando perfeitamente.
O autor do drink era o meu amigo e parceiro Rodrigo Vitoriano, conhecido pelo apelido de Nelório, herdado de seu tio, um outro pé-de-cana de primeira. Nelório - o meu amigo - era famoso pelos porres que tomava, todas as festas, viagens e finais de semana, lá estava ele bêbado. Assim como ele, todos meus amigos eram - alguns ainda são - assim também, vivíamos em um ressaca constante.
Todos eram profissionais na arte de beber e beber bastante, mas nessa viagem Nelório chegou aos limites. Foram 4 dias de pinga, pinga e somente no último dia que teve pinga. E num desses dias, eu já estava mal de tanto beber, misturando tudo que vinha pela frente, coca com pinga, fanta com pinga, pinga com outra pinga, tanto que fiquei realmente mal e tive que deitar um pouco para ver se passava um pouco a loucura que estava a minha cabeça. As veias da lateral da cabeça latejavam e o minha gastrite judiava do meu estómago.
Enquanto eu tentava descansar, esperando aquela brisa passar, o meu amigo Nelório trazia sempre um copo com alguma coisa (básico: coca com pinga, soda com pinga, vodka...), ele dizia que era para eu beber que logo - logo - iria melhorar. Fizemos então um trato. Todo copo que ele trouxesse dividiríamos ao meio, tomando metade cada um. E assim foi, toda hora que eu estava quase dormindo, ele aparecia com um copo para dividirmos, até uma hora que ele não apareceu mais.
Psicológico ou não, eu melhorei do porre com as bebidas que o Nelório havia me trazido e fui para a sala, a sua procura para agradecer. Para variar, ele estava de porre de novo, sentado no corredor do apartamento, com uma cara pálida, o cabelo todo desarrumado, parecendo com um morto vivo. Alguns amigos - inclusive eu - aproveitando o momento de inconsciência do rapaz, tiraram algumas fotos dele com garrafas de vodka, pinga, latas de cerveja e um frasco de Veja (isso mesmo, aquele produto de limpeza) em seu colo. A princípio não entendi o motivo do frasco de Veja. Será que eu havia perdido algum fato enquanto descansava no quarto?
Eu não só havia perdido o fato, como também havia participado. Meus amigos me disseram que Nelório estava bebendo sem parar e foi misturando tudo que tinha pela frente, até que chegou uma hora que a pinga acabou, então ele usou a primeira coisa que viu pela frente. E adivinhem o que ele viu? Isso! O frasco de Veja substituiu a pinga e foi misturado com fanta. O pior que ele não bebeu sozinho, pois um dos copos ele levou para dividirmos e eu tomei sem sentir nenhuma diferença, para ver como eu estava mal também.
Na hora, todo mundo meio doido, nem nos preocupamos do mal que o Veja poderia causar, a nossa única preocupação era registrar aquela cena do Nelório bêbado no corredor, com todas as bebidas que havia tomado naquele dia, inclusive o frasco de Veja.
Hoje, mais de 4 anos depois, a foto está entre outras fotos que tenho coladas nas paredes do meu quarto. Todas as vezes que olho para foto, com o Nelório largado no corredor, com uma toalha na cabeça, umas garrafas de pinga no colo, abraçado a um frasco de Veja, minha boca teima em sorrir e dar risadas. A gargalhada é inevitável, mas graças à Deus, eu e o Nelório somos cobaias sobreviventes da experiência deste drink, pois não é sempre que se toma Veja com fanta e nada acontece. O engraçado é que até tive a impressão que tomar fanta com Veja me ajudou, pois cortou o efeito do álcool e ainda deixou meu sistema digestivo limpo e brilhante.
O Ministério da Saúde adverte: Em caso da ressaca persistir, procure pelo doutor, bar-man, pinguço e grande amigo Nelório.
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