Obrigado a mudar de hábitos em face de indesejável acidente, multidão de pensamentos podem tumultuar nossa mente. Bons e maus. No meu caso, procurei não manifestar os maus. Tudo sendo tão desagradável, porquê e para quê haveríamos ainda de nos aborrecer intimamente com os aspectos negativos do relacionamento humano. Hoje todavia, refletindo com frieza, deixo gravado algumas considerações.
De velho, pobre e doente, ninguém gosta, repetia sempre o meu saudoso colega Dr. Névio, referindo e justificando um ensinamento que seu pai lhe repassara: velho ninguém deseja ser; pobre você pensa que vem pedir dinheiro emprestado e o doente poderá vir a lhe transmitir alguma moléstia. Infelizmente, esse negativo axioma, em nosso mundo agitado e utilitarista, predomina assustadoramente de maneira que, tornam-se desnecessárias maiores explicações ou detalhes.
Mas, é interessante constatar : de doente ninguém gosta. Entenda-se a colocação: refiro-me à companhia, à visitas, ao intercàmbio diário. Todavia , se a pessoa é rica, ocupa posição de destaque, não faltarão aduladores. Faz algum tempo um ministro importante e famoso veio a falecer. Fora rodeado de visitas de renomadas e inúmeras personalidades. No caso, dado o excesso de visitas, percebi , na época, que o paciente estava mesmo para morrer. Enfim, o mundo é mesmo assim.
O "leit motiv" de tudo, como sabemos , é o interesse. Tudo funciona dependendo das vantagens que possam advir de determinado acontecimento. Envolvido em inesperada e desagradável situação, alterei completamente a minha programação de vida. Não sei por quanto tempo e se outras alterações serão necessárias. Místico que sou, então, ocorreu-me a queda do cavalo, de Saulo, transformando-se no grande apóstolo Paulo e de Ignácio de Loyola, que se refazendo de ferimentos de batalha se aprofunda nas leituras espirituais, tornando-se num dos mais importantes santos da Igreja. Tudo simplesmente para me consolar.
Multidão de pensamentos. O desinteresse de pessoas bem próximas
(muitas envolvidas no enfrentamento da pesada luta diária ), outras - nem tão chegadas-, na simples cortesia da indagação, talvez da curiosidade, podem ser lastimados. Isso é normal. A situação é semelhante à quela, quando acompanhamos algum sepultamento: todos estão apressados em deixarem os velórios ou cemitérios, e voltarem à rotina das próprias vidas. Enfim, o silêncio, o isolamento, a reflexão de que a simplicidade das coisas é que deve prevalecer. A paciência, a caridade. Finalmente, um agradecimento a Deus pela ventura de sermos livres e de não nos encontrarmos perseguidos pelas forças do mal, como ocorre em diversos e sofridos países do mundo contemporàneo.