Hoje eu quero escrever uma crónica bem boba, só para o meu amor. Quero me saber o mais bobo dos bobos, desses que fingem ter piolhos só para que a amada lhe coce a cabeça. Quero falar palavras de xo-dó, delicadinhas, delicadinhas, cheias de sonhos pue-ris. Quero tudo fora de moda, como dançar lentinha e lágrimas de ciúme. Quero ouvir Evaldo Braga:
"Lua, manda tua luz prateada
Despertar a minha amada
Quero matar meu desejo
Sufocá-la com meus beijos..."
Quero exprimir para o meu amor peralta o quanto ele me deixa bonzinho, bonzinho, sonhando infinitamente com dengos, brinquedos e pantufas. Quero inventar o diminutivo mais grande do mundo para que meu amorzinho saiba o quanto tem de ter-nurinha em mim, e o quanto, ó meu Deus, eu preciso de cuidados, cuidados...
Quero que minha crónica seja tão exclusiva, que meu amorzinho fique tão imortalizado quanto o de Romeu. E que todo mundo saiba que meu amor tem cor de maçã nas bochechas, um jeito criança de andar e o toque mais absoluto sobre a metafísica do meu ser. Por isso, ninguém, absolutamente ninguém, vai saber quem é o meu xodozinho, porque ele é se-creto, secreto...
Quero que meu amorzinho saiba que quero aprender a ciência da fidelidade. Até porque me pare-ce uma blasfêmia dividir o meu xodó com quem quer que seja. Quero meu carinho concentrado, confiante, tranquilo... e que todas as emoções violentas e som-bras e contradições que venham a acontecer, se resol-vam com a chegada da lua e das estrelas.
Quero aceitar todos os presentes e bênçãos do mundo, para dividir com meu amorzinho. Sobretudo quero que Deus proteja o meu amorzinho e a mim; meu amorzinho para que não sofra com o mundo, e a mim para que não morra de saudades nem de amor ou taquicardia.
E para finalizar minha crónica brega e dengosa, vou dirigir-me especialmente ao meu xodó, porque novamente voltei a infància e já nem reconheço mais minha idade cronológica. Sei até que sou bobo e es-crevo mal, mas sou puro. Por isso:
"Não te rias de mim, meu anjo lindo!"