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cronicas-->Ansiedade Tecnológica -- 05/02/2002 - 00:13 (Deise Gê) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ansiedade tecnológica
(Deise Gê)

Meu reino por um computador!
Meu mundo num computador!
Comprei o meu primeiro pc em 98 e, como eu não tinha linha telefónica, usava o dito cujo apenas como máquina de escrever. Em 99 eu venci um concurso de monografias sobre educação ambiental e, com o dinheiro do prêmio, comprei um telefone e um super pecezão de última geração. Entrei na internet e a minha vida mudou. Virei a escritora do Love Online e, por causa disso, vivi em dois anos as experiências mais espetaculares e mais caóticas da minha vida. Não vou mentir: virei compulsiva do tipo net-maníaca que deixa de ir a uma festa pra ficar conectada. A primeira coisa que eu pergunto quando chego na casa de alguém é "vc tem computador?". Se tiver, eu evito fazer comentários, procuro falar de outras coisas, me distrair, mas não adianta que eu não desencano e chega uma hora em que eu vou ficando preocupada com a hora de voltar pra minha casa, pro meu escritório, pro meu computador. A internet é a minha droga. Reconheço que sou usuária dessa PiCaína há dois anos, que estou viciada e que sou dependente de doses cada vez mais pesadas. Pra mim qualquer hora é hora de pico. Não respeito mais a madrugada pra pagar menos pelo meu consumo descontrolado. Minha dependência é psicológica. Acho que se a máquina pifar eu pifo junto. Algum tipo de substància virtual me dá um prazer mórbido pelas descobertas fantásticas que eu colho nas minhas navegadas surreais. Baseado nisso, meu cérebro vira chiclete quando eu dou de cara com algum site excepcionalmente original. Idéias bem dotadas de criatividade me excitam. Ando pelas ruas virtuais sem rumo, surfando como louca no mar de informações da web, tropeçando nos cliques, cochilando bêbada em cima do teclado. Esqueço quem eu sou, perco a identidade, assumo o anonimato quando bato um papo nada chato num chat qualquer. Os ambientes que eu frequento são tão secretos que costumam pedir uma senha na entrada do portal. Sinto sede de novos conhecimentos e fome de respostas novas pra velhos problemas e essa busca me fascina. É quando eu entro nos sites de busca que eu fico mais suscetível aos efeitos alucinógenos da droga. Minha boca fica seca, meus olhos ficam vermelhos e a minha cabeça gira em espirais quando eu dou ok e descubro que existem nada mais nada menos do que 5.987 sites contendo a minha palavra-chave. Estou à beira da overdose e sei que ela vai acontecer um dia, por mais que eu queira me livrar dessa relação high-tech meio suicida. Compartilho seringas toda vez que escancaro as artérias e injeto na veia a beleza de certas palavras anabolizantes diluídas em alta concentração de soro virtualógico que me oferecem promiscuamente nas salas de bate-papo. Isso já entrou no meu sangue. Esqueci os amigos, vivo com aparência cansada de mortinha da silva, peguei manias sinistras de arquivar tudo, de disquetar, de scannear, de imprimir e de attachar. Não peço mais o tel das pessoas, peço o e-mail. Converso colorido pelo icq em vez de trocar confidências incolores ao vivo. Virei morcega e fujo do sol. Prefiro a escuridão do ambiente pra realçar o brilho da tela, quem diria. Meu monitor é meu mestre, meu mouse é a minha arma, minha tela é o meu espelho mágico e ele me diz que na net ninguém é mais bela do que eu, apesar das madrastas de plantão e das cinderelas de bobeira. Às vezes eu acho que estou doente e que só o Ctrl-S salva. Sou nerd assumida e minha realidade real atravessa o cabo do modem pra ir buscar alimento no plasma da realidade virtual, repetindo a ultrapassada experiência do cordão umbilical dos outrora desconectados. A distància da máquina me desidrata, me deprime e me sufoca, porque o meu combustível é a mouseolina e o meu oxigênio está no ar puro que entra pela minha Windows 99 , aaaaahhhh, eu vou pirar!

Texto publicado no Jornal A TARDE, em 23/01/2002.


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