Na tarde nublada, dois amigos conversavam sentados num banco do calçadão do Leme, olhando o mar. Era frio.
- Jacques, já aconteceu isso contigo também, ser abandonado na hora mais imprevista, na hora que você mais precisava da mulher, sem mais nem me-nos?
- Já, rapaz. Isso é mais comum do que a gente pensa.
- Dá pra me contar; preciso acreditar que al-guém já passou por isso. Ficar sem nada.
- Bem, eu havia deixado a carreira militar, fi-quei desempregado, gostava muito dela. De repente, ela chegou pra mim, falou que eu estava atrapalhando.
- Atrapalhando?
- É. Que ela tinha que estudar... Eu falei: não, mais você não pode me deixar agora... Como tu vê, Carlos, parece que elas escolhem a pior hora...
- Você ficou mal, né?
- Pensa que é só contigo, meu caro.
- Carlos acabara de ser dispensado pela ga-rota. Não tinha mais recursos humanos que o amigo, além da sua dor. Já tinha duas horas que estavam olhando o mar, conversando o mesmo assunto e ten-tando entender porque ele fora dispensado. Relem-brava o quanto ficou mal ao vê-la partir. Tinha ímpe-tos absurdos de fazer voltar o tempo e tentar conven-cê-la do contrário. Começara a chover fino.
- Jacques, vou te dizer uma coisa. Nem Deus eu perdóo. Não há nada que vai fazer isso passar. Não vou esquecer nunca. Só ela, mais ninguém pode con-sertar, você entende?
- É. Eu sei.
- Vamos tomar um café?
- Vamos.
Depois de tomar o Café, Carlos dirigiu-se ao ónibus e ficou olhando o amigo partir. Sabia que ele entendera. Era bom ter um amigo. Era o que lhe res-tava.