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cronicas-->Sul de Minas -- 29/01/2002 - 01:17 (Marcelino Rodriguez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
SUL DE MINAS

Fugindo do amor e da guerra, fui parar numa fazenda ao sul de Minas. Era uma dessas ocasiões cruciais, onde o homem, reconhecendo a sua dor insuportável, foge. Sabe-se herói apenas se consegui permanecer vivo, ainda que sem nenhuma alegria. Na verdade, fugia mais do amor que da guerra. Com esta última já estou habituado, todos os dias a terei, enquanto viver entre os homens. Fugia do amor.
É sempre este que move o mundo, para o bem ou para o mal; somos manipulados pela esperança de encontrá-lo. É assim que suportamos a vida, dia após dia. Para o amor nas-cemos, crescemos, vivemos, matamos, trabalhamos e mor-remos, finalmente exauridos. E talvez ainda achemos o amor na eternidade. Bem ou mal, nossa sina é amar.
Ferido mortalmente pelo amor de uma mulher, fui parar no sul de Minas, numa fazenda mágica. Nesta fazenda fui tentar o impossível: esquecer o amor. Houve momentos que pensei haver morrido, e que Maíra, a moça que me conduzia naquela horta, era um anjo preparando minha entrada no céu. Maíra era branca e suave, descendente de japoneses e pau-lista. Ensinou-me plantar e colher, enquanto conjeturávamos sobre o infinito e sobre como curar minha alma.
Com uma sensibilidade divina, Maíra me protegeu. Hou-ve momentos que até pensei que ela poderia ser minha cura. E que o destino me aprontara uma peça. Dotada de uma sabedoria espiritual impressionante e insuspeita, ela reinava sobre suas tarefas e a dos outros. Sua presença era a calma. O domínio inexorável. Uma verdadeira rainha, pobre no en-tanto. E achei-me miserável por reparar com pena sua pobre-za. Eu era indigno de seu reino.
Eu era indigno de tudo. Ferido mortalmente pelo amor, cortei cana, fiz caldo, plantei, reguei, colhi, isolei-me nos bosques, dormi, sonhei, acordei novamente e parecia não ter acordado nunca. Na fronteira da montanha, meditava que meu sofrimento era eterno. E via o sol nascer com infinita melancolia.
Só o amor que me ferira, poderia me curar. Uma mulher, distante no Rio de Janeiro, continha meu pobre coração nas mãos. Pois é que eu sabia que vivo ou morto, não poderia fa-zer nada. Meu coração era dela. E não adiantava eu fugir par a nenhum lugar do mundo. Só me restava voltar e tentar a cura pelas mesmas mãos que causaram-me a ferida, as úni-cas do universo que me poderiam curar.
Foi assim, indigno da fazenda mágica, pois que aqui fi-cara o coração, que se deu minha volta.

7/1999.
Publicado em "A Ilha", 2001, Luz do Milênio Editora.
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