Algumas coisas da vida são como espantar moscas que voam sobre um bebê que dorme. Ou você passa o resto do dia espantando as moscas, ou espanta uma vez, mais outra, quem sabe uma terceira, e depois segue seu curso porque tem muita coisa para fazer. O bebê e as moscas que se entendam.
Não se trata de irresponsabilidade ou omissão, compreenda. São dinàmicas da vida. A mãe precisa lavar roupa, cozinhar, cuidar da casa (a mãe desse exemplo, por favor, senhoras!). Ela não pode ficar a tarde toda espantando moscas do bebê.
Eu gosto de escrever cronicas mas não passo o dia inteiro espantando as moscas das minhas idéias. Ora, elas que se entendam com os insetos. Quando acordarem vão chorar, agitar, mexer onde não devem... Aí eu vejo o que faço. Até lá, tenho que tocar a vida ou a vida me toca.
Há providências inadiáveis em se tratando de bebês e idéias, como tirar de perto objetos cortantes, frascos de álcool e coisas que possam despencar sobre eles. É assim que a gente faz quando tem filho pequeno e idéias não elaboradas. Põe grade na janela, varre bem o chão quando quebra copo, enfim, age preventivamente.
Mas as moscas, ora as moscas, não dá para ficar espantando as moscas o tempo todo. Os bebês e as idéias têm seus tempos próprios. A gente também tem. As moscas não são diferentes. Quer dizer, são diferentes, sim. Elas não têm agenda e enchem o picuá o tempo todo.
Portanto, a mãe espanta as moscas quando passa perto do berço para ver se tudo corre bem. Ajeita a fralda que serve de lençol e segue para ver se ainda dá para aproveitar aqueles legumes que estavam na gaveta da geladeira. Eu até me dou ao luxo de balançar uma ou duas vezes o bercinho das idéias.
Já velei o sono de muitas idéias. Isso a gente faz, Ã s vezes. Mas não dá para fazer sempre. Nisso, estou com a mãe daquele bebê das moscas. Não sendo vespa nem varejeira, deixe estar! É a acomodação das forças naturais que faz bebês sonados, mamães ocupadas, idéias e escritores conviverem pacificamente com as moscas.