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cronicas-->Salada de frutas -- 31/12/2001 - 00:17 (Maurício Cintrão) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Como eu disse, estou de dieta. Tudo bem, não vou ficar chorando. Regime é como briga: se desafiou tem que partir para a luta ou fica feio. Acontece que, mesmo estando de dieta e humor de faquir com soluço, não posso deixar de honrar os compromissos sociais. Ainda mais nesta época. Nas festas de fim de ano, sou o responsável pela salada de frutas da ceia, o que já é um clássico familiar.

Em função das restrições alimentares, até que não é tão complicado. Venho mantendo uma relação mais íntima com as frutas. Diria, até, uma relação de luxúria. Se você já fez regime com sacrifício deve saber o que significa comer uma fatia de melão como se fosse a última noite de amor. Hum, que delícia!

Pois este ano, até para vencer a gula reprimida, eu caprichei na salada de frutas do Natal. Foi minha obra de arte, sem sombra de dúvidas. O modo de fazer foi herdado do meu avó. Coisa da intuição culinária da família. Corto as frutas em pedaços bem pequenininhos. Mais parece ponche do que salada de frutas. E é fácil de fazer. Requer apenas algumas horas de trabalho.

Primeiro vem a maçã. A maçã é alma da salada de frutas. Quanto menores os pedaços, maior o prazer em comer. Então, eu começo pela maçã, até porque, no início da maratona de cortes, o ànimo, a faca e a vista ainda estão afiados e eu abuso nos cortes milimétricos. Sintonizo o FM em alguma emissora que toque música para velhinho se excitar e mando bala.

Depois, vem a pera suculenta, o mamão papaia bem doce e o melão maduro. Tudo cortado em mínimos pedacinhos. Em seguida, é a vez da banana. Os mais radicais acham que a banana escurece, fica feia e rouba o sabor das outras frutas. Nada disso! Banana é o alter ego da maçã. Sem ela, a salada de frutas fica sem diálogo.

O passo seguinte é espremer meia dúzia de laranjas de caldo refrescante e deitar o líquido suavemente sobre os pedaços delicados de frutas em uma vasilha bem grande. O molho ganha ainda mais corpo com um pouco de vinho branco de mesa. E aí chegamos ao grand finale: pêssegos em calda.

A minha obrigação é fazer uma salada de frutas dietética. Mas não tenho como evitar os pêssegos em calda. Primeiro, porque a calda é componente indispensável do molho. Depois, porque os pêssegos emprestam um tom quase dourado ao arranjo multicor de frutas. Provocam a imaginação e o paladar.
Nesta véspera de Natal, essa foi a parte mais difícil do trabalho. Porque, em pleno regime, pêssegos em calda ganham personalidade, pulsam, melam os dedos, sugerem fantasias eletrizantes, levam ao delírio. E eu quase me acabei porque, depois de controlar os instintos animais para cortar quatro metades de pêssegos, não resisti: peguei o mais carnudo da lata, o mais lascivo, o mais delicioso e devorei. Até babei de prazer.

Sei que não devia, mas não puder me conter. E enquanto sentia a carne macia desfazendo em minha boca, com a língua deliciada entre os contrastes da pele lisa da fruta e seu interior rugoso, não tive como evitar um pensamento absolutamente impróprio: Deus estava comendo pêssegos em calda quando criou a mulher. Que loucura! Será que no princípio de tudo veio a dieta?

Maurício Cintrão
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