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cronicas-->Falta coragem -- 27/12/2001 - 13:00 (Maurício Cintrão) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Acho que perdi a coragem. Talvez por isso não beba. Já bebi muito whisky. Fiquei sofisticado e, na contra-mão dos experts, passei a beber bourbon que, para quem não sabe, é o whiskey norte-americano, de milho. De repente, pum, parei. Perdeu a graça.

Hoje, reflito com cuidado. Teria sido a bebida ou a minha vida? Qual a graça em beber atualmente? Quais os riscos? Porque só eu dirijo lá em casa e alguém tem que levar o carro de volta... Ah, isso é bobagem. Muitas vezes fui e voltei de táxi para não ter que dirigir. Esse argumento não serve.

Seria porque enxergo melhor as pessoas e o mundo quando bebo? Pois eu sempre fui resistente aos efeitos do álcool. Enquanto a maioria ganha expansividade e alegria, eu continuo na minha. Bom papagaio mudo, quando bebo, presto mais atenção a tudo. Deve ser isso. Passo a ver o que não gosto nas pessoas e no mundo. Seus gestos e olhares viram legendas do que estão pensando e sentindo.

Acho que é falta de coragem mesmo. Falta de coragem de encarar que o meu cotidiano é uma chatice. Tenho um emprego razoável, uma família agradável, várias dívidas e quase nenhum tempo para mim mesmo. E por falar nisso, preciso voltar à joalheria a sério. Eu já fui bom nas artes de burilar a prata. Mas toma tempo. E eu ando meio carente de tempo; de tempo e de coragem.
Porque tempo a gente arranja, né?

É falta de coragem, sim. Porque eu teria que reconhecer um paradoxo em minha vida. Nela, os descaminhos são os caminhos e isso é difícil de administrar. Envolto em culpas e de raízes postas no manual de boas maneiras, teria de romper comigo mesmo. Bom para a análise, péssimo para o dia-a-dia.
Caramba, mas o dia-a-dia chato é meu e de mais ninguém.

Se bem que, jogando o manual de boas maneiras fora, eu teria, necessariamente, que rever algumas teses abandonadas, como a crença em ETs, a certeza de poder encontrar a fada com a qual sonhei durante tantos anos, o culto egocêntrico das minhas vontades exclusivas e a completa falta de respeito ao pudor alheio. Pior: aprenderia a andar de bicicleta.

Será que a esta altura do campeonato eu seria capaz de aprender a andar de bicicleta?

Nossa, é falta de coragem, mesmo!

Maurício Cintrão
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