Neste momento, em algum lugar distante e triste, há uma criança esperando. Abandonada pela sorte em alguma instituição, ela espera ter a sorte de encontrar quem a restitua. De nada adiantam as lindas histórias de fada, nem os mais eletrizantes brinquedos. Seus olhos enxergam os vazios que moram na parede.
Param as guerras, os carnavais e os desenhos animados. Sola um oboé enquanto a criança aguarda.
Você já ouviu a valsa triste por alguém que não veio? Pois a espera do pequeno é assim, imensa e triste, incomensurável como o escuro dos pesadelos. Seu relógio esquece as horas, até porque das horas não sabe direito. Conta os dias em anos. Conta os anos em um prato de arroz.
Uma criança que espera sonha em ter alguém que não conhece. Alguém que logo esquece porque nunca veio. E envelhece em defeito esperando o concerto daquilo que funciona direito. É a lei do desprezo, do avesso, do nada. Esperar desse jeito é morrer sem começo.
Em algum lugar, neste momento, talvez aí ao seu lado, na casa vizinha, na rua de baixo, aguarda uma criança com frio e com medo. Espera o mocinho, a mocinha e um pangaré bem molengo, que tragam o choro, o carinho e o enredo. Porque a criança que espera chora um choro seco. Choro de leito velho de um rio que não corre, mas que ainda pode voltar a correr.
Neste momento, neste exato momento, uma criança aguarda.