Em memória de Plínio Marcos, inspirado em Manoel Bandeira
Imagino o Plínio Marcos entrando no céu:
- Dá licença, mano velho?
- Tá chegando fora de hora, mas a casa é tua. Recebi ordens pra te deixar à vontade, saindo e voltando pras quebradas do teu mundaréu, conforme sejam os desejos e necessidades gerais.
- Agradeço, mas quero voltar não.
- Aqui é meio monótono, cada coisa em seu lugar...
- Tó cansado dos desarranjos de lá...
- Aqui tem luz e arrumação demais... teu espírito exige lusco-fusco, luz de abajur lilás, meu velho..
- Cansei de lá... gastei voz, varei madrugadas debruçado sobre os soluços de muitos, colhi de bar em bar gemidos e preces, acho que inutilmente.
- Foste ouvido... teus cantos e lamentos ecoaram até nós...
- Se vieram antes de mim, alguém os trouxe, não recebi os direitos...
- Chegaram muito antes...
- Trouxe outros livrinhos aqui no bolso, dá pra eu descolar algum?
- Isso se vê depois...cada vez tens mais o que fazer por lá e por aqui... te fizeste porta-voz dos marginais e dos excluídos... eles são cada vez mais numerosos... e és responsável pelo que cativas...
- Não me venha com a caretice do piloto francês... nunca escrevi pra candidatas a misses... escrevo pras madalenas convictas da profissão.
- Ho...ho....ho... jamais nos passou pela cabeça te abrigar no pavilhão dos líricos e romànticos... fica sossegado. Tens lugar especial entre os doidos e insanos, junto aos abilolados, toda espécie de maluco que investiu contra os moinhos dos ventos liberais que sopram pelas bandas de onde viestes.
- É isso aí, sangue bom. Começamos a nos entender...
- Pois então, entra... não peça licença... a casa é tua...