Tenho saudades do mar. Sinto falta da arrebentação, do reflexo do sol na água, do barulho das palmas ao vento. Gosto daquela sensação atordoante provocada pelo calor e pela maresia. A praia é um dos poucos ambientes onde me entrego por completo.
Fico muito feliz ao lado do oceano. Funciono melhor, torno-me mais interessante e interessado. Aguçam-se o paladar, o olfato e a intuição. A pele fica em estado de alerta e os músculos parecem adquirir outra densidade. Perto do mar, até o ato de espantar borrachudos é sensual.
Fecho os olhos e balanço com as marolas imaginárias. A superfície azul está encapelada. Pés prisioneiros pousam na areia quente. O perfume do chapéu-de-sol embriaga. Sua sombra é generosa. Desejo um bom livro. Idealizo uma lancha que chapinha. Crianças brincam mais para lá, onde gritos e risadas não atrapalham. Sou refém da praia em meus sonhos sequestradores.
Na orla, a vaidade aflora. Gosto da cor achocolatada de minha pele caiçara. Fico mais bonito. Me enxergo mais bonito. E olho mais bonito para os outros. Talvez porque mais bonitas fiquem as morenas de havaianas. Não importa se ruivas, loiras, orientais, negras ou morenas. Todas as mulheres são lindas e morenas sob o Sol marinho de tempero e sal.
A maré oscila. Margeio meus problemas a bordo da saudade do mar. Quebram ondas dentro de mim e o espírito pede pela aragem que só em sonhos vem. Não resisto em marinhar meu corpo pelos mares das lembranças de férias. Mas os olhos marejam, o bom senso incomoda e a frustração continente diz que o veleiro é de brinquedo. Não naufraga mas também não navega. Sou marinheiro do seco. Um marinheiro com saudades do mar.