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cronicas-->Perdendo o jeito -- 10/11/2001 - 23:29 (Marissom Ricardo Roso) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Olha para o céu: tira teu chapéu pra quem fez a estrela nova - que nasceu. Não é pra São Jorge/nem pra São João, pois não é outra lua e não é balão. Quem mora no oriente não vai se incomodar, ao ver que no ocidente a estrela quer passar. Não há mais abandono/nem reino de ninguém. Se a terra já tem dono, no céu ainda não tem. Por isso vem! (Espacial - Belchior).

Já fazia algum tempo que eu queria escrever sobre uma mania que trago comigo desde guri. Isto veio à tona um dia desses, quando me contaram que andou por aqui um gringo, e perguntado sobre o que ele mais havia gostado da terrinha, disse que ficou fascinado pelo nosso céu, pois lá em Nova Iorque onde mora, não consegue ver as estrelas.

Quando ainda criança, eu morava no campo, e o que mais gostava de fazer era estender um pelego ou um cobertor velho sobre a grama e ficar observando o céu que nos protege. As estrelas sempre me fascinaram. No campo, é impressionante a visão que se tem da imensidão da beleza do firmamento. Os rios de mel e leite parecem saltar aos olhos e é possível ver a face de Deus, o artista supremo que costurou aqueles milhares de tachas douradas no manto índigo do céu. Lá, no campo, as estrelas não sofrem a concorrência artificial das luzes das cidades, nem sentem a inveja do cinza da poluição das metrópoles a encobrir seu brilho mágico e sedutor. Aquele espetáculo delas reluzindo era simplesmente um espetáculo indescritível.

Agora já não sou mais menino. Tudo anda tão complicado. Provas, pesquisas, estrada, faculdade, estrada, melancolia, saudade. Cada vez mais escravo de coisas materiais desagradáveis. Se ainda fosse de paixões e alguns vícios mundanos de que há muito me livrei, não seria nada mal. Mas que nada, agora é só responsa!

O que eu queria mesmo era ser um vagabundo, rolar na relva, correr com meu cachorro, nadar pelado num rio de água limpa. Calçar um tênis velho, sentar na praça e tomar sorvete de casquinha. Abraçar os amigos, andar de cabelo desalinhado e carregar no olhar o estranho brilho dos apaixonados, a ponto de sentir-me tão leve como se fosse voar.

Caminhar no mato, abraçar uma árvore, pedir pra ela levar embora as mazelas do mundo que carrego comigo. Conversar com os passarinhos, dizer pra Deus muito obrigado . Dormir até mais tarde, passear de bicicleta, conquistar uma mulher, ficar louco de saudade dela. Estar inspirado e escrever bilhetes tolos.

Jogar fora meu terno preto de super-herói, vestir uma bata psicodélica. Ouvir o lamento de um blues, aprender a tocar guitarra, beber um trago, não ser uma farsa, ser politicamente incorreto sem o patrulhamento de ninguém. Ter de volta a coragem estúpida da juventude, só para irritar o velho que me sufoca. Assistir um show de Rock, e pedir para Deus mandar de volta minha mãe que Ele levou.

O vidro frio da janela do ónibus que me leva e traz todas as noites, é a janela de uma cela através da qual fito as estrelas e que me faz ter consciência de que sou aquilo que nunca imaginei. Enquanto minha cabeça cansada enganava meu coração sonhador ao longo do caminho, descobri que pouco restou a preservar, do berço até a cova.

Melancólico, hoje vejo nas estrelas o guri que já fui, e me pego cantando os versos da mais bela canção dos Angueras - é tão fácil ir embora, tão difícil é voltar, quero ser guri de novo, não consigo me encontrar...

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