Há muito tempo que não vou ao Clube Atlético Ypiranga. Deve ter mudado bastante nesses 30 anos de distància. O salão de bailes, onde aconteciam as domingueiras, deve ter aumentado. O conjunto de piscinas é bem possível que tenha sido modernizado. E o ginásio de esportes já nem deve ser o mesmo.
Será que ainda tem pão com molho?
Nossa, que saudade do pão com molho que a gente comia depois de se esfalfar na piscina! Nem todas as crianças tinham dinheiro para sanduíches e a lanchonete precisava dar lucro, então, criou esse sanduíche molhado. Havia o cachorro quente com molho e, para quem não podia pagar, pão com o molho da salsicha. Para acompanhar, vinha a groselha. Era baratinho e enganava a fome.
Você vai dizer que isso é memória de gordo. Mas tem mais gente que lembra do pão com molho do Clube Atlético. Claro que tem. Puxa, é uma lembrança tão forte que até faz salivar. Não é possível que só eu lembre daquele lanche. Afinal, o molho era uma delícia!
Quer dizer, eu até posso estar exagerando. Às vezes, a saudade faz dessas coisas e empresta propriedades temperadas ao passado insosso. Em parte, as próprias dificuldades da minha meninice tendem a dar um gostinho especial a muitas de minhas reminiscências. Vai ver foi isso que fez daquela merenda, aqui, há 30 anos de lonjura, uma iguaria tão especial para o paladar da memória.
O fato é que recordo daquele tempo e daquelas circunstàncias e lembro do pão com molho do Clube como o melhor sanduíche do planeta. E não era só o pão com molho. Era o pão com molho, o cheiro de cloro da piscina, e a língua que avermelhava com a groselha muito doce.
Recordo que, uma ou outra vez, pude atacar o sanduíche completo, com salsicha e tudo. Em um momento extraordinário, deu até para exagerar com um refrigerante. Não lembro o que bebi. Tinha Cerejinha, Crush, Grapete e Seven-Up, além, é claro, da Coquinha e do Guaraná Caçula. Você que é mais novinho não deve nem desconfiar do que estou falando.
Pois eu vou deixar você mais por fora que umbigo de vedete nessa conversa de velho. Sabe o que a gente comia de sobremesa? Paçoca Amor e Dadinho Dizziolli. Puxa, era uma época de coisas muito especiais. Havia as balas Paulistinha, os Cigarrinhos de Chocolate da Pan (o sabor era outro), o drops Chucola e o chocolate Lingote, naquela embalagem dourada.
Tudo bem, eu sei que a indústria alimentícia evoluiu e oferece uma infinidade de outras guloseimas, hoje em dia. Refrigerante é a coisa mais comum do mundo. Vejo pelos meus filhos, que são verdadeiras dragas de embalagens de 2 litros. O cachorro quente perdeu para os hambúrgueres e o pão com molho parece obra de ficção para as novas gerações.
Em casa até já consegui emplacar o tostex, o pão com margarina e açúcar e a cerimónia de raspar a tigela com o resto da massa do bolo. Mas o pão com molho, esse não agradou : "Puxa, pai, pão sem nada!?". Mas que coisa! Essas novas gerações são absolutamente insensíveis com as memórias alheias.