Fiquei sabendo hoje que um conhecido do meu filho foi vítima de sequestro. No começo, até pensei que se tratasse daqueles casos em que os assaltantes ficam rodando de carro com a vítima para sacar dinheiro de caixas eletrónicos. Mas não foi isso. Sequestraram o rapaz (não deve ter muito mais do que 20 anos de idade) por dois dias, com cativeiro, pedido de resgate e tudo!
A vítima parou seu veículo em frente à casa da namorada para deixá-la. Enquanto a menina entrava, os sequestradores levaram o rapaz, deixando seu carro ali mesmo. Mais tarde, fizeram contato e pediram R$ 50 mil de resgate à família, que é de classe média e não tem esse dinheiro todo. Para se ter uma idéia, disse meu filho, o máximo que eles conseguiram arrecadar foram R$ 5 mil.
O caso só não ganhou contornos de tragédia porque a polícia anti-sequestros conseguiu localizar o esconderijo e acabou com a festa dos bandidos. Aliás, até onde tenho notícias, a delegacia especializada nesse tipo de crime tem apresentado excelente desempenho na maioria dos casos em que é acionada, o que não deixa de ser um alívio.
O que assusta é a vulgarização dessa modalidade de violência. Perdeu-se o respeito de vez. Os bandidos estão cada vez mais audaciosos, ao ponto de qualquer marginal se dar ao direito de sequestrar um rapaz de família sem recursos. Os chamados sequestros-relàmpago têm sido tão comuns que já não provocam espanto nem entre os familiares das vítimas.
É certo que o policiamento precisa ser reforçado e que as autoridades necessitam encontrar caminhos para controlar a violência. Mas será que só isso resolve? Acho que a questão é mais complexa e não se restringe a contigente de policiais nas ruas e poder de fogo contra o crime. Essa vulgarização não seria reflexo do desrespeito generalizado pela pessoa que estamos vivendo no País, atualmente?
Os políticos detentores de cargos públicos abusam da arrogància e do cinismo, cortando verbas para áreas essenciais como saúde e educação por conta da "falta de recursos", mas continuam a esbanjar com gastos supérfluos. Não há como tratar os aposentados com dignidade, mas sobra dinheiro público para cobrir os rombos de instituições financeiras falidas.
A corrupção voltou a ganhar dimensões de feira-livre. Parlamentares trocam acusações com riqueza de detalhes em plenário e, assim mesmo, são necessários meses para que os crimes denunciados sejam apurados e punidos (quando o são). Verdadeiras gangues são estruturadas para fazer vazar o dinheiro de projetos e obras de interesse social e nada acontece contra elas. O serviço público é cada vez mais ineficiente e burocrático, caro e problemático, corrupto e atrasado, mas nada acontece para mudar essa ordem de coisas.
Nesse quadro, esperar que bandidos tenham medo e respeito é querer demais, você não acha?