As explicações para leigos até que são bem razoáveis. Ainda assim, quando volta a minha tosse de cachorro no deserto, xingo todos os contemporàneos de Pasteur. É a terceira vez que fico gripado este ano, mesmo depois de ter sido vacinado contra a gripe.
Eu sei, eu sei... as vacinas abrangem apenas determinado grupo de "famílias" do vírus e não garantem cem porcento de imunização. Eu devo ser muito azarado ou os vírus não abrangidos pela vacina têm mira espetacular, porque sempre me pegam. Há três anos que tem sido assim, apesar das sucessivas vacinas.
Entre amigos e conhecidos já existe um esboço de motim contra a picadinha institucional. Se é para pegar a gripe, para quê levar agulhada nas campanhas anuais de vacinação promovidas pelas empresas? Não é uma pergunta sem sentido.
Meu lado racional pede moderação. Mas é natural pensar com maldade sobre essas campanhas empresariais. Há quem cite nomes de colegas que não tomaram a vacina e não contraíram gripe nenhuma vez este ano. Não posso confirmar. O fato é que ficar derrubado como estive até outro dia enche o saco.
Por dois dias não fui trabalhar. Na volta, houve quem me olhasse com malícia, como se eu tivesse arranjado uma bela desculpa para não ir ao escritório. Seria uma estratégia muito besta, convenhamos. Pois, para deixar de ir trabalhar, tive que passar três noites sem dormir, com calafrios de filme de terror e o ànimo de um dinossauro disentérico.
Como há quem ache que é preciso trabalhar sob quaisquer condições, é natural entenderem uma certa má vontade na minha baixa resistência. Tudo bem, faz parte do jogo de comparações. Nenhuma empresa merece o sacrifício de se trabalhar com dores no corpo e mal estar. Mas os heróis institucionais não pensam em merecimento, apenas em exemplos.
Gosto de trabalhar e busco trabalhar com aquilo que gosto. Sei que nem sempre é possível compatibilizar gostos e necessidades, mas eu tento. Acontece que há momentos em que a cabeça manda e o corpo não responde. É uma espécie de motim fisiológico. Foi assim comigo, nessa última semana. Portanto, não peçam exemplos. Sou péssimo para isso.
Resta saber se as campanhas de vacinação têm sentido, mesmo. Tenho ouvido muita gente reclamar da gripe e da vacina. Até parece que é um processo de causa e efeito: espirra e xinga a campanha. Como eu odeio vacinas, tenho certa tendência a apoiar as críticas. É por isso que vou pensar duas vezes antes da próxima picada preventiva. Isso, é claro, se a tosse não acabar comigo antes.