Você tem mania de guardar coisas velhas? Eu tenho. Quer dizer, tinha, porque, lá em casa, sumiram com as minhas. Ou foi a Rê que jogou fora, sem nenhum remorso, ou foram meus filhos que fizeram lambança e acabaram misturando com os brinquedos deles.
Minha coleção de parafusos, por exemplo, virou farofa. Nunca mais vi. Alguém deve ter sumido com ela. Às vezes, as crianças aprontam alguma e escondem as evidências. Normalmente, minhas coisas estão entre essas evidências. Logo, devem ter aprontado com a minha coleção de parafusos.
O grande problema é que ninguém assume que aprontou e eu só dou falta das minhas coleções de inutilidades-úteis quando preciso delas. Em geral, isso acontece quando sou acionado para consertar alguma coisa. Chega alguém com aquela cara de pedinte, com algum objeto quebrado nas mãos, ou vem aquela solicitação urgente, quase aos gritos: "Pai, corre que o beliche tá despencando!".
Saio em busca de minha caixa de ferramentas e, tchannn, cadê os parafusos, porcas e outras geringonças? Se reclamo em alto bom tom, acabo ouvindo um "puxa, eu não sabia que aquilo podia ser usado!". Texto curto mas absolutamente esclarecedor sobre o destino dos meus trecos: jogaram fora. No geral porém, ninguém diz que viu (ou jogou fora). Fico no campo das suposições.
E alguém liga? Liga nada, porque, no final, acabo resolvendo mesmo ou, na pior das hipóteses, tenho que abandonar minha auto-estima e pedir a ajuda a um dos consertadores profissionais que trabalham nas redondezas.
Se você é mulher, não tem idéia de como isso é humilhante. É o desastre total ser um homem incapaz de resolver um problema de encanamento ou de um equipamento eletrónico que emudeceu.
É por isso que estou determinado em recuperar meu orgulho próprio criando uma nova coleção de coisas velhas, parafusos e porcas sem par e "otras cositas". Até já arranjei um lugar inexpugnável, a minha bat-caverna. Vou fazer uma coleta de emergência nas casas de amigos para iniciar o acervo já com alentado estoque.
Assim, em breve, ao primeiro chamado, estarei firme e rígido para sair correndo com minha caixa de ferramentas e alguns vidros de cacarecos, em socorro do bem-estar doméstico. Aí todos vão perceber que eu não sou super herói, nem preciso usar disfarces incrementados, mas tenho um conjunto de utilidades de fazer inveja ao Batman. E sem ter o Robin a reboque, o que é uma grande vantagem.