Eu me pergunto frequentemente: onde foram parar os meus sonhos? Nem sempre consigo responder. Sei que perdi muitos deles pelo caminho e que preciso recuperar alguns. Vários sonhos, entretanto, foram realizados por tabela quando conquistei novos horizontes que não estavam nos planos.
Deixei de acreditar em alguns sonhos em momentos específicos da minha vida. Alguns nasceram apenas para ser sonhos. Seria bobagem confiar na sua realização. Outros, porém, são esboços daquilo que acaba sendo (ou poderia ser) um ou mais projetos de vida.
Os sonhos deixam de ser sonhos quando viram projetos de vida? Ou melhor: projetos de vida realizam sonhos?
Estão aí boas questões para se responder.
Estar vivo pressupõe sonhar permanentemente. Para pessoas como eu, deixar de sonhar significa perder a sintonia com o universo. Parece bobagem, mas é assim mesmo. Quando eu estou deprimido, murcho se não encontro um sonho, uma fantasia, um desejo novo.
De uns tempos para cá, tenho até tentado me enganar. Aproveito os momentos em que as coisas estão bem e esqueço dos sonhos. Fico fazendo balanço geral das realizações. É mais fácil para ser feliz. A dificuldade é manter a alegria.
Os tempos não andam lá muito fáceis para realizações. Falta dinheiro, faltam oportunidades e, especialmente, falta elasticidade. As diversas crises pessoais e nacionais (muitas delas relacionadas diretamente) determinam dificuldades na balança comercial e no equilíbrio emocional.
Ando importando mais sonhos não realizados do que exportando alegria. Não tem como fingir para mim mesmo. Nessas horas, fica complicado me enganar. Quando o déficit emocional revela minha inapetência sonhadora, tendo a achar que só importo bugigangas.
Fico falando para mim mesmo: "Que bobagem! Não adianta pensar que teria sido bem melhor se fizesse de outro jeito, porque isso não é verdade. Não teria sido porque não foi. Essa é a grande resposta!"
Esse jeito de raciocinar até aplaca algumas angústias, mas não resolve problemas. Tento reduzir à inutilidade alguns sonhos que me fizeram sobreviver à s crises e aos descompassos. Aqui dentro, porém, sei direitinho da importància do sonhar e não posso ficar brincando de estraga prazeres. Até porque, o único que terá os prazeres estragados serei eu mesmo.
O problema é que ando meio incompetente para os sonhos. Perdi um pouco da magia do sonhar. Se você já viveu isso, por favor, responda: tem cura?
Tenho a ligeira sensação de que estamos vivendo uma época sem sonhos. E se isso é geral e irrestrito, está na hora de declararmos aberta a temporada de caça aos sonhos.
Mas se for um problema só meu, bom, então, deixa estar! Fico por aqui murchando. Até que um novo sonho me repare.