A imbecilidade não é privilégio de terroristas. Os norte-americanos já deram várias provas de seu talento na área. Mas nada justifica uma ação animalesca como a que se presenciou nesta manhã. Que fanatismo é esse? Onde pretendem chegar esses extremistas? Qual será a reação dos jogadores de guerra?
Falo com a minha mulher pelo telefone, comento o espanto provocado pelas cenas do terrorismo matinal e brinco, medroso: hoje à noite, vamos tomar um whisky, pois pode ser o último. Meu instinto paranóico cochicha alguma coisa como "pode não ter noite, hoje".
Tento manter o bom humor. Por sorte, meu trabalho absorve boa parte da manhã. Vou acompanhando cenas e comentários sobre os atentados como se fosse um turista que errou o destino. Mas o medo está sentado ao meu lado.
Penso nos meus filhos. Penso nas coisas que não fiz e que deveria ter feito. Tenho medo que não haja tempo nem para rever os erros cometidos.
Eu sei, você vai dizer que é bobagem. Que estou me antecipando aos fatos. Mas é difícil não fazer conjecturas sombrias quando a insanidade leva grupos extremistas a agirem como hoje.
Que imbecilidade, meu Deus! Para quê?
Tento pensar em alguma coisa que desvie a atenção. Brinco com os colegas de trabalho: hoje é um bom dia para as orgias. Pode ser o último. Alguns riem. Outros não reagem. A brincadeira é idiota, concordo.
Andei pelo escritório e vi as pessoas assustadas. Até o barulho da cidade parece que diminuiu. Muita gente deve estar acompanhando os acontecimentos em frente à TV. Alguns esperam o tempo passar, como eu, aqui, agora, escrevendo este texto.
Os analistas vão fazer uma série de considerações a respeito. Estudiosos de vários matizes e correntes teóricas vão desfilar suas hipóteses e explicações. Mas ninguém será capaz de explicar o que pode acontecer amanhã.
Lembro de Nelson Rodrigues citando Dostoievski. "Se Deus não existe, tudo é permitido".
No caso de hoje, salvo engano, o atentado só aconteceu porque, para esses terroristas, Deus existe. E, mesmo assim, tudo é permitido.
Lamento o desabafo, amigo(a) leitor(a). Confesso que a crónica de hoje seria dedicada aos sonhos e não a esse pesadelo. O texto sonhador até está pronto, mas não tenho ànimo para publicá-lo. Soaria falso.
Agora, não é hora de sonhar. Infelizmente, agora não é hora de sonhar.