A matéria de domingo do jornal carioca referia-se à paternidade na idade madura. Como resultante, entremeada por breve apreciação do tema e fotos familiares, a conclusão banal de que a vivência em questão possuía fatores positivos e negativos. A oposição dos ganhos e perdas estaria explicitada por duas disposições básicas. O pai mais novo teria maior resistência física para brincadeiras com os pimpolhos. O mais velho, levaria vantagem no quesito disposição psicológica, devido à maturidade adquirida com o passar dos anos.
Bastaria acessar rapidamente a memória para lançar por terra tal afirmação. Todos conhecemos, tanto jovens de espantosa maturidade e sabedoria, como velhos com resistência suficiente para atravessar sorrindo o canal da Mancha. Novos paradigmas, embasando os atuais conceitos de manutenção da saúde e o volume de informações sobre o assunto, vieram a alterar, significativamente, as limitações físicas dos tempos remotos. A qualidade de vida passou a depender, mais substancialmente do que antes , da quantidade de investimento que o sujeito está motivado a despender com ela.
A paternidade "tardia", apontada nas entrelinhas do texto como curiosa novidade comportamental, insistiu no rol das leituras equivocadas. A ocorrência do fenómeno sempre existiu, incluídas aí as famílias numerosas que se estruturavam no passado sem o recurso das pílulas anti-concepcionais. Reporto-me a mim mesma como exemplo, filha temporão de um homem de aproximadamente cinquenta anos. Não se trata, portanto, da ocorrência de algo novo no contexto social, como a matéria tentou insinuar.
O mais curioso, porém, foi proveniente da figura do psicanalista, indagado sobre qual das duas idades seria mais favorável para a criação dos filhos. A pergunta contrapunha a juventude à idade madura, ou seja, as idades próximas aos vinte comparadas à s superiores aos quarenta anos. O sujeito respondeu, prontamente, que seria a dos trinta, detentor ainda do vigor físico e (sintetizo aqui, por não me lembrar das palavras exatas...), acrescido de uma qualidade emocional mais desenvolvida.
Lembrei-me de imediato da inesquecível pesquisa de marketing, apreciando a aceitação mercadológica de um determinado produto, fabricado em duas cores: preto e branco. O resultado evidenciou uma demanda de cinquenta por cento para cada uma delas. A leitura técnica conclusiva foi semelhante a do profissional consultado pelo jornal. Chegou-se à triste e absurda conclusão de que a cor ideal seria o CINZA...